segunda-feira, janeiro 08, 2007

Balanço hídrico no organismo animal

Realizou-se no dia 25 de Novembro de 2006, pelas 21:45H uma palestra, proferida pelo Professora Doutor Fernando Pires, com o tema "Balanço hídrico no organismo animal". Essa palestra foi proferida no novo Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores.

A água é indispensável a todos os processos bioquímicos e fisiológicos. A natureza fisico-química da vida na Terra reflecte em grande parte as características especiais da água.

Nos invertebrados marinhos, a água do mar actua como meio extracelular. Nos anfíbios, peixes e invertebrados aquáticos, uma parte da osmorregulação é feita pelas brânquias, pele e inclusivé pelo intestino.
Para sobreviver a um meio osmoticamente desfavorável, os animais desenvolveram sistemas internos estáveis de modo a amortizarem os efeitos adversos do meio exterior sobre os tecidos internos.
A osmorregulação deve permitir:
1- A retenção da quantidade apropriada de água;
2- A concentração necessária de solutos e nutrientes.
O teor de água no organismo - Depende da:
1- Ingestão de água
2- Teor de água no alimento
3- Utilização de água metabólica
Importância da água:
1- Principal constituinte orgânico;
2- As reacções orgânicas só se podem desenvolver se as moléculas e os iões estiverem em solução aquosa;
3- Serve de veículo aos principais nutrientes, aos produtos de metabolismo e às hormonas;
4- A supressão de água determina, a curto prazo, a paragem dos fenómenos vitais.
Teor em água de alguns seres vivos:
a- Invertebrados marinhos - Representa 96% a 97% da sua massa corporal;
b- Esporos bacterianos - 50% ou menos;
c- No homem adulto - 65% a 70%:
- Tecido adiposo 30%
- Tecido conjuntivo 60%
- Pele 71%
- Fígado 73%
- Músculo 77%
- Tecido nervoso 84%
- Fluidos orgânicos 90 a 99,5%.
Adaptação à falta de água - Os bovinos e suínos têm fraca adaptação, os ovinos, camelos e burros tem maior adaptação. A necessidade de água segue em paralelo a elevada temperatura e a evaporação de água é o meio mais eficiente de dissipar o calor, o que trava a carência.
Principais funções da água:
1- Solvente universal de nutrientes e resíduos;
2- Meio para reacções químicas:
- Elevada constante dieléctrica (bom solvente para materiais polares);
- Participa ou é produto de muitas reacções químicas;
3- Regulação da temperatura corporal:
- Calor específico elevado;
- Calor de vaporização elevado;
4- Lubrificante.
Equilíbrio hídrico - A quantidade de água absorvida é variável com as espécies animais, dependendo primariamente das condições climáticas, temperatura e grau higrométrico do ar, mas também da idade, composição da dieta alimentar, produção de leite e condições de vida, como sejam as deslocações, o tipo de estabulação e manutenção nas pastagens.
Factores que influenciam a ingestão de água:
1- Temperatura ambiente;
2- Ingestão de M.S.;
3- Ingestão de proteína;
4- Ingestão de sal;
5- Lactação;
6- Actividade física;
7- Tamanho do animal;
8- Estados patológicos.
Factores que afectam as necessidades hídricas:
a- Espécie - As aves e insectos excretam ácido úrico pelo que requerem pouca água. Os ovinos têm fezes mais secas do que os bovinos.
b- Estado fisiológico - Na fase final da gestação há maior retenção de água, na lactação há maior necessidade de água para produzir leite e nos estados patológicos pode haver também maiores necessidades hídricas para eliminação das toxinas.
As perdas de água - Fazem-se por:
- Ar expirado – Respiração;
2- Pele – Sudação;
3- Intestino - Sistema digestivo (Fezes);
4- Glândula mamária - Produção de leite;
5- Rim - Sistema renal (urina).
Perdas de água na lactação - O teor médio de água no leite é de 87%. A produção de 20 litros de leite por dia correspondem à perda de 17, 4 litros de água.
Necessidades de água - Num clima temperado e com um peso médio:
Espécie Litros / dia
Bovinos de carne 26-66
Bovinos de leite 38-110
Equinos 30-45
Suínos 11-19
Ovinos, caprinos 4-15
Galinhas 0.2-0.4
Perús 0.4-0.6
Efeito da restrição hídrica - Causa redução na ingestão de alimento, reduz o crescimento e a produção. Nos cavalos pode provocar cólicas intestinais.
O equilíbrio hídrico - Entre os diversos espaços é realizado muito rapidamente, sendo a pressão sanguínea nos territórios arteriais e venosos a principal responsável pelas trocas.

Volume do espaço ocupado pelos diferentes compartimentos:
1- Total dos compartimentos – 57%
2- Intracelular – 35%
3- Intersticial – 17 a 18%
4- Plasmático – 4,6%
5- Extracelular (intersticial + plasmático) – 22%
Os líquidos intersticiais - Servem como reserva líquida compensatória entre o plasma sanguíneo e as células, sendo estes dois compartimentos mais sensíveis que o intersticial, às perdas hídricas.
As alterações nos diferentes compartimentos são efectuadas através da difusão, filtação, pressão hidrostática e osmótica dos fluidos, de modo a manter o fluido intersticial e extracelular com uma osmolariedade idêntica, cerca de 280 a 300 mOsm/l (normal). O equilíbrio dos fluidos pode ocorrer por desidratação celular ou por hidratação celular.


O controlo do balanço da água - A sua maior ou menor reabsorção está controlada por três hormonas:
1- A hormona anti-diurética (ADH) - Regula fundamentalmente a água, reduzindo a sua perda;
2- A hormona aldosterona - Regula principalmente o sódio e indirectamente o cloro e a água, reduzindo também a perda desta;
3- Atriopeptina (péptido natriurético atrial) – Causa diurése.

A ausência de H2O é necessariamente um mal?

Realizou-se no dia 28 de Novembro de 2006, pelas 21:45H uma palestra, proferida pela Professora Doutora Maria da Graça Silveira, com o tema "A ausência de H2O é necessariamente um mal?". Essa palestra foi proferida no novo Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores.
A disponibilidade de água é um dos factores mais importantes para a manutenção da vida no nosso planeta. Isto é especialmente verdade para os microrganismos que são constituídos por 80% a 90% de água e porque os nutrientes de que necessitam para o seu metabolismo têm que estar em solução para que possam ser transportados para o seu interior. Os alimentos ricos em água, representam, assim, um meio óptimo para o crescimento dos microrganismos, deteriorando-se rapidamente.



O sedentarismo, o aumento demográfico e a acumulação de excedentes, acentuaram a necessidade de criar reservas de alimentos, o que só foi possível com o desenvolvimento de técnicas que permitam a sua conservação e armazenamento. Desde então, que o homem tentou arranjar formas de conservar os alimentos. A secagem é um dos métodos mais antigos e surgiu quando os povos primitivos observaram que as sementes das plantas, com que se alimentavam, se conservavam por mais tempo depois de expostas ao sol.



As salmouras e as compotas são outras formas de conservar tornando indisponível a água presente nos alimentos, que ao realizar ligações com o NaCl ou glucose deixa de poder participar noutras reacções, nomeadamente, as necessárias ao crescimento dos microrganismos.
Mais recentemente com a descoberta da máquina frigorífica os alimentos passaram a ser conservados por congelação, onde a água se torna indisponível por passagem ao estado sólido.