terça-feira, março 27, 2007

Arcos d'Água em Santa Maria - Açores

Está a decorrer desde 26 de Março a 27 de Abril, a exposição Arcos d’Água da autoria de Vasco Oswaldo Santos de Toronto-Canadá, Cristina Oliveira de Santa Catarina-Brasil e de Maria de Deus Moreira de Ponta Delgada - São Miguel – Portugal, na Ecoteca de Santa Maria em Vila do Porto.
Essa exposição promovida pelo Centro de Tecnologia Agrária dos Açores (CITAA) do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar através da Direcção Regional da Promoção Ambiental e da Ecoteca de Santa Maria, conta com o apoio do grupo brasileiro Huadine e da instituição canadiana ADiáspora.com. Arcos d'Água também faz parte do Projecto conjunto de Cristina Oliveira e Félix Rodrigues Trilhas & Terras = Homem em Movimento.

Depois de passar por Ponta Delgada e Angra do Heroísmo é a vez da exposição estar patente ao público na ilha de Santa Maria.
De acordo com Vasco Owsvaldo Santos, Arcos d'Água nasceu da necessidade de aproximação, do entendimento e da colocação de cada um dos seus autores, no meio, independente das distâncias.
De acordo com Cristina Oliveira, “hoje em dia, as tecnologias digitais popularizaram e facilitaram a Fotografia. O que se regista através da objectiva, de uma maneira geral, já lá estava, quiçá... sempre lá esteve! A beleza veio dos caprichos da Natureza. A paleta de cores da luminosidade das estações do ano. O que é então original? Ah, original mesmo é o que os olhos do fotógrafo imaginam ver. E como cada um de nós deixa ser a alma a registar o que os olhos vêem à sua maneira, estes trabalhos também serão interpretados de acordo com os olhos de quem nos visita.”.
O desafio, de acordo com Maria de Deus Moreira, “nasceu aqui na blogosfera, como nasceu a amizade entre os bloguistas-fotógrafos que já conta uns meses. Tem sido muito gratificante nesta minha viagem virtual, conhecer e cimentar amizades, sinceras e bonitas.”
Se vive em Santa Maria ou por lá passar, não deixe de ver estes fabulosos arcos d’água.

segunda-feira, março 26, 2007

As pequenas ilhas são mais vulneráveis às alterações climáticas globais

Como é estudado o clima nos Açores? Estamos ou não vulneráveis ao aquecimento global e às mudanças climáticas?Como é estudado o clima nos Açores? Estamos ou não vulneráveis ao aquecimento global e às mudanças climáticas? A estas perguntas responde em entrevista ao Açoriano Oriental o director do Centro do Clima, Meteorologia e Mudanças Globais (C_CMMG) da Universidade dos Açores, Eduardo Brito de Azevedo. Na sua opinião, pequenas mudanças nos Açores, devido às suas características, podem trazer maiores problemas. Há quanto tempo existe o C_CMMG da Universidade dos Açores e qual a sua organização actual?

Muito embora o Centro do Clima, Meteorologia e Mudanças Globais tenha sido formalmente criado em finais do ano de 2006, a sua justificação decorre do trabalho desenvolvido desde há muito por um grupo de investigadores da Universidade dos Açores que, principalmente no Pólo de Angra do Heroísmo, se têm dedicado a estas temáticas. Este trabalho traduz-se em numerosos projectos de índole científica e técnico-operacional, que envolvem não só as equipas e parceiros locais, mas também investigadores e técnicos de outras instituições nacionais e estrangeiras. Em termos de organização interna o C_CMMG está fundamentado em cinco grandes linhas de trabalho, designadamente: climatologia e meteorologia insulares; clima marítimo e meteo-oceanografia; propriedades físicas e químicas da atmosfera; hidroclimatologia e bioclimatologia. A algumas destas componentes estão associadas actividades relacionadas com a problemática das mudanças globais do clima, particularmente naqueles sectores que mais directamente nos dizem respeito, como insulares.

O aquecimento global é um tema muito forte na opinião pública actual. Os Açores estão muito ou pouco vulneráveis a ele? Qual é a sua opinião, como cientista, sobre o tema?

As pequenas ilhas, designadamente as oceânicas, apresentam-se como territórios mais vulneráveis às alterações globais previsíveis. Neste contexto, assume particular relevância a susceptibilidade destes territórios face aos mecanismos climáticos que condicionam a segurança e as disponibilidades hídricas, designadamente aqueles que determinam as reservas em água potável, a sustentabilidade dos sistemas agrícolas e a manutenção dos sistemas naturais, incluindo a biodiversidade. Todas estas componentes determinam a manutenção da habitabilidade das ilhas e a sustentabilidade das sociedades e economias regionais insulares. Muito embora com características distintas, que conduzem a diferentes graus de vulnerabilidade, praticamente todos os territórios insulares comungam de uma limitada capacidade de adaptação face aos desafios que se adivinham. Mesmo as ilhas de maior desenvolvimento vertical, como as ilhas atlânticas dos Açores, enfrentam problemas específicos que, com alguma frequência, são desvalorizados face aos cenários das projecções das variáveis climáticas directas - temperatura e precipitação - quando comparadas com as projectadas para as regiões continentais. De facto, atendendo à fraca capacidade de retenção hídrica, típica dos territórios insulares, a menores amplitudes da variação climática expectável podem, à escala regional, corresponder impactos ambientais e socioeconómicos mais problemáticos. Caracterizadas por apresentarem uma grande heterogeneidade geológica e uma extensão de fronteira com o mar desproporcionada face à pequena dimensão do território, as ilhas atlânticas apresentam processos hidrológicos com uma expressão temporal e espacial peculiares e pouco favoráveis à retenção hídrica. A predominância do escoamento torrencial de superfície, o rápido e permanente rebatimento - descarga natural - dos níveis freáticos, bem como as condições circundantes de apertada fronteira com a água salgada do mar, conduzem a que as reservas em água doce tenham um tempo de residência curto bem como um decaimento muito acelerado da sua qualidade. Estes aspectos são particularmente importantes nas ilhas mais pequenas ou em unidades geológicas mais recentes. A sobreelevação do nível do mar, também ela consequência do clima e da sua evolução futura, constituindo uma pressão periférica aos territórios insulares, revela-se como uma séria ameaça às zonas costeiras, bem como às reservas hídricas insulares, sobretudo sobre aquelas que se localizam nos aquíferos basais. Mal estruturados, os novos substratos agora expostos à acção do mar e à intrusão salina necessitarão de tempo geológico para se adaptarem às novas funções. rcabral@acorianooriental.pt

domingo, março 25, 2007

Combater o exodo insular-potencialidades dos pequenos espaços-o caso da Terceira

Realizou-se no dia 24 de Março, pelas 20:30 horas, no Rádio Club de Angra um debate sobre "A Ilha Terceira no Contexto Regional Açoriano". Esse debate integrado nas comemorações dos 60 anos do Rádio Clube de Angra, foi moderado pelo Dr. Ferraz da Rosa e contou com as intervenções do Dr. Sérgio Ávila, Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores e o Professor Félix Rodrigues da Universidade dos Açores.
Resume-se aqui a intervenção do Prof. Félix Rodrigues:
A centralidade geográfica da ilha Terceira permitiu durante séculos que também fosse esse o local de maior centralidade económica do Arquipélago Açoriano, todavia, o movimento combinado da centralização económica e da expansão da massa trabalhadora em São Miguel retirou-a dessa centralidade histórica.
A Terceira não é só história é também um viveiro de ideias que pretendem vingar, quase sempre por oposição à “continentalidade regional” assumida por São Miguel. A Terceira assume-se por seu lado, como o fiel da balança regional colhendo apoios das ilhas mais pequenas na defesa dos interesses desses pedaços de terra desprovidos de dimensão demográfica. Creio que é pelo facto de ser a segunda ilha mais populosa e de não ter peso demográfico suficiente, para se opor à metade do arquipélago que vive em São Miguel, que sente a necessidade de ser mediadora das questões relacionadas com o desenvolvimento harmónico dos Açores. Há necessidade de distinguir oposição a S. Miguel de bairrismo: o bairrismo apoia-se em argumentos facciosos e irracionais, enquanto que a oposição é uma defesa democrática de um ponto de vista ou de uma estratégia. Por vezes o relacionamento Terceira/São Miguel, e vice-versa, tende a cair no bairrismo em detrimento da “oposição” a ideias e a modelos.
Voltando à história, que sem ela também a Terceira não vive, é que se percebe que esta terra tenha sido o fiel da balança nas questões liberais e nas questões da independência dos Açores. Mediar ou fazer pender, exige esforço e necessidade de comunicação. Desde cedo que a rádio se implantou na Terceira com o Rádio Club de Angra em 1947. Dez anos mais tarde temos a primeira emissão de televisão em Portugal, em 1957 (pelos americanos) mas também na Terceira. A União é um dos jornais mais antigos do país. Uma ilha, com tão reduzida população possui dois jornais diários: A União e o Diário Insular. Nesta ilha a comunicação tem um peso deveras importante e a crítica já faz parte da tradição e da cultura popular e erudita. Tudo isso tem feito com que a Terceira seja uma ilha aberta a novas ideias e promotora de novas experiências que nem sempre as mantêm, por falta de liderança e empenhamento individual e colectivo. Tem potencialidades para ser um pólo atractivo e combater o êxodo insular que pode ter consequências mais nefastas que o êxodo rural nos territórios continentais.
Na modernidade e no contexto mundial, a base das Lajes desempenha no novo mapa-mundo um papel quase semelhante ao Porto de Angra do Heroísmo nos mapas do velho mundo. É o pé da América na Europa. É ao mesmo tempo o conforto, na perspectiva de protecção e segurança da região e também o seu desconforto quando os inquilinos entram em desvario.
Poder-se-á perguntar se a afirmação da Terceira no contexto internacional, nacional e regional não se deve mais aos seus inquilinos e visitantes do que aos próprios terceirenses? Os terceirenses sempre foram abertos e hospitaleiros, divertidos e trabalhadores, apesar de haver gente que discorda, e, empenhados. Também são derrotados. Poucas vezes foram vencedores porque a força é ditada na maioria dos casos pelos números. A dimensão demográfica não se impõe às pessoas que aqui vivem, mas impõe-se ao espaço que estas ocupam.
Qual o futuro para a Terceira? Talvez o seu desígnio seja o de continuar na posição que lhe confere o seu nome, ou então o de lutar sempre para se manter na segunda divisão regional em termos económicos e demográficos, porque neste momento não há nada previsível que destrone São Miguel. Nesse campeonato, existem outras modalidades em que a ilha se pode afirmar como sejam o turismo cultural, o turismo rural, o turismo inter-ilhas e o turismo ecológico. No turismo paisagem, os Açores já tem um campeão que é São Miguel, e no ecológico, tem um grande rival que é o Pico. A sucessão dos tempos fez com que diversas lógicas ficassem sobrepostas num mesmo espaço daí que Angra do Heroísmo, na Terceira, se afirme como Cidade Património Mundial e como tal modelo organizacional para todo o Arquipélago. Aliar essa componente à componente de turismo da natureza colocaria a Terceira num patamar diferente do que ela hoje ocupa no panorama turístico regional.


A importância da função administrativa e comercial justifica a escolha de sítios bem colocados na rede de transportes regionais, nacionais e internacionais tais como encruzilhada de caminhos marítimos ou portos de carga. A Terceira possui um elevado potencial regional nesse domínio ou até mesmo nacional ou internacional que não tem sido eficientemente explorado quer por empresários locais quer pelas autoridades locais e regionais. A Terceira tem que se globalizar.
Na agricultura a Terceira pode afirmar-se na agricultura biológica porque São Miguel é e será o campeão da agricultura convencional.
A Terceira pode afirmar-se também na Educação, tanto nas letras, para as quais revela grandes aptidões, mas também nas ciências, não em todas, mas nalgumas mais específicas. É preciso para isso iniciativa da população, mas também apoios sociais, não obrigatoriamente governamentais, mas também passando por aí. A Terceira tem muitas potencialidades, como todas as outras ilhas. Precisamos aproveitá-las, tornando-as complementares e não competitivas.
A Terceira contribuirá para um desenvolvimento integrado do Arquipélago, se o que ela quiser, não for obrigatoriamente o mesmo que todos os outros querem.

sexta-feira, março 16, 2007

Intrusão salina em ilhas vulcânicas e alterações climáticas

O problema da intrusão salina nos aquíferos (entrada de água salgada em formações geológicas capazes de armazenar e transmitir quantidades significativas de água doce) foi um dos aspectos evidenciados na tese de doutoramento de Maria Emília Novo, defendida no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. Subordinado ao tema: "Alterações climáticas e seus impactos nos recursos hídricos subterrâneos em ilhas de pequena dimensão" tendo, como ilha de referência a Terceira, actualmente consiste numa preocupação de vários especialistas e entidades que temem a entrada de água salgada nos sistemas de aquíferos. A especialista sublinhou que de um modo geral, as regiões insulares são, pelas suas características de litologia, estrutura geotectónica, dimensões, topografia, condicionantes geográficas e de natureza hidrogeológica, muito susceptíveis aos impactos das alterações climáticas.


Neste contexto, os aquíferos podem ser modificados pela alteração do nível médio das águas do mar e pela alteração dos parâmetros climáticos, isto é, a precipitação e a temperatura. Segundo a tese de Maria Emília Novo, as alterações climáticas, motivadas por origens naturais e/ou pela acção do Homem, têm impactos nas várias componentes do ciclo da água, de forma a que essas alterações podem modificar a sua qualidade, pela intrusão salina e a sua quantidade, pela redução da precipitação total e aumento da temperatura média, causando um decréscimo nos volumes de recarga. Por outras palavras, a recarga do aquífero, ou seja, a entrada abundante de água e a subida dos níveis de armazenamento subterrâneo, só é possível se chover durante muito tempo.De acordo com o estudo, o "impacto das alterações climáticas sobre os recursos hídricos tem sido estudado sobretudo para a parte superficial do ciclo da água, havendo no geral grande desconhecimento sobre os recursos hídricos subterrâneos, que são vitais para as zonas insulares". A tese de doutoramento consistiu, assim, numa análise dos possíveis impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos subterrâneos dos Açores, especialmente no vector quantidade, analisando-os quer na perspectiva da modificação local do nível médio das águas do mar, como na da modificação do clima que se admite que venha a ocorrer nesta Região. Com base nos resultados obtidos, relativamente à previsão destes impactos e nas respostas admissíveis dos sistemas aquíferos a estas modificações, procurou-se desenvolver uma metodologia de determinação da vulnerabilidade dos recursos hídricos subterrâneos das regiões insulares às alterações climáticas, extensível às zonas costeiras.No capítulo referente à resposta dos aquíferos às alterações do nível do mar, "a partir dos dados, ainda que plenos de lacunas, actualmente disponíveis sobre o nível do mar, estabeleceram-se cenários de evolução do nível do mar", com a finalidade de definir as áreas litorais mais vulneráveis a estas alterações. Segundo a geóloga, "além da questão da perda de área dos aquíferos litorais por recuo da linha de costa devida à erosão provocada pela subida do nível do mar, o principal impacto da alteração do nível do mar é a intrusão salina, a qual depende igualmente da permeabilidade das formações aquíferas". Em muitos locais, uma medida muito utilizada é a protecção das nascentes do aquífero para que não sejam afectadas pela água salgada.Por sua vez, na Terceira, e "para a generalidade dos aquíferos, as permeabilidades parecem ser no geral moderadas a altas, por vezes mesmo muito altas, pelo que a maioria dos sistemas aquíferos é bastante susceptível a sofrer intrusão salina".O estudo concluiu que os aquíferos mais susceptíveis às alterações do clima são os muito recentes, "preferencialmente lávicos com grandes fracturas e alta densidade de fracturação, cujas fracturas e vazios não estão ainda colmatados e em especial nas zonas onde ocorram tubos de lava, dado estas estruturas serem corredores de acesso preferencial da água do mar ao interior dos aquíferos".As áreas com risco de intrusão salina, à excepção das regiões de eventual sobre-exploração, mais elevado são: Biscoitos-Terra Chã (nos sectores litorais, em particular a região de Biscoitos), Guilherme Moniz-S. Sebastião (em especial a zona de S. Sebastião) e Ignimbritos das Lajes (no sector litoral). O documento dá conta ainda que os cenários de subida do nível do mar indicam que, os "aquíferos suspensos de baixa altitude não parecem correr riscos de contactar com o oceano e, portanto, deverão continuar imunes ao problema da intrusão salina". Por seu turno, os poços e nascentes litorais da Terceira sofrem um significativo risco de submersão, talvez o mais elevado do Arquipélago, atingindo directamente os poços de maré e nascentes litorais até aos 2 metros, embora, no caso da intrusão salina associada, este efeito se estenda mais para o interior, afectando pontos de água até pelo menos aos 10 metros. Quanto ao factor da precipitação que pode alterar as condições dos aquíferos, a especialista traçou um cenário de subida da precipitação, dentro de 110 anos. Neste âmbito e de um modo geral, os Açores poderão viver períodos de pouca precipitação, intercalados com períodos de chuva intensa, podendo originar uma maior pressão sobre os aquíferos na Terceira. A autora considera ser importante alertar para a necessidade de instalação de sistema de recolha, tendo por base a possibilidade de os aquíferos naturais não corresponderem a todas as solicitações da população futuramente. "Os sistemas aquíferos mais favorecidos são os que não se verifica praticamente escoamento (ex.: Graben, Guilherme Moniz-S. Sebastião), seguidos das regiões de escoamento superficial reduzido e com coberto vegetal herbáceo (ex.: sectores de Serra de Santiago ou do Central), as quais poderão passar a desempenhar um maior papel na recarga dos aquíferos", de acordo com o estudo. Daqui resulta que as formações piroclásticas mais recentes (ex.: formações do sistema Ignimbritos das Lajes) ou as formações lávicas basálticas muito recentes com grandes níveis de escórias, densamente fracturadas e/ou com muitos tubos de lava são as que melhor podem acomodar aumentos da recarga no caso de subidas das precipitações. Por sua vez, as áreas de permeabilidade baixa tenderão a sofrer maior variação das recargas em função da variação das condições de precipitação e muito em especial da evapotranspiração (nesta zona do solo, alguma água pode ir para a atmosfera, outra pode ser usada no metabolismo das plantas e outra pode continuar a descer).

Artigo da Jornalista Vera Borges do Diário dos Açores

quinta-feira, março 15, 2007

Biodiversidade de plantas cultivadas- Contributo para o Desenvolvimento Sustentável

Chama-se Germobanco e é um projecto que envolve os Açores, a Madeira e as Canárias. Há três anos que tenta caracterizar e fomentar o cultivo de variedades tradicionais da maçã, do inhame ou da pimenta, características de algumas zonas dos Açores. O catálogo já inclui centenas de variedades. São centenas de variedades tradicionais de dezenas de espécies de frutos, legumes ou mesmo cereais as que já constam do Germobanco açoriano. A intenção é sistematizar um trabalho que já vinha sendo feito isoladamente num verdadeiro registo ao nível da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias) onde, de uma forma científica e virada para os potenciais económicos, se faz um levantamento das variedades tradicionais características de cada uma das regiões, como forma de as preservar e até promover, num mercado alimentar cada vez mais global. Trata-se do projecto Germobanco, financiado pelo programa Interreg IIIB, coordenado pelo Professor Doutor David Horta Lopes e que há três anos nos Açores tem vindo a desenvolver um importante trabalho de preservação do património genético de algumas variedades tradicionais, primeiro na ilha Terceira, hoje também já nas ilhas de São Miguel, Faial, Pico, São Jorge e Santa Maria. Todos já terão ouvido falar, no caso de São Miguel, da maçã das Furnas ou do inhame da Bretanha ou do feijão rolo açoriano. Mas há centenas de exemplos pelas nove ilhas dos Açores. Nalguns casos, são variedades que foram mantidas nas ilhas desde os tempos da colonização e que agora, com a abertura do mercado alimentar ao exterior, perdem valor comercial e, muitas vezes, desaparecem sem que as pessoas possam verdadeiramente explicar como ou porquê.
Preservar as espécies cultivadas também é uma estratégia de preservação da biodiversidade e de contributo para o desenvolvimento sustentável.
O projecto Germobanco pretende precisamente inverter esse processo, como explicou ao Açoriano Oriental o director dos serviços de Desenvolvimento Agrário da Terceira, José António Ávila. “Com a massificação e o manuseamento genético, há uma tendência para padronizar e cada vez mais há menos diversidade. Muitas vezes, a espécie mais produtiva não é a mais saborosa ou a mais bonita. A diversidade constitui um património importante e os países mais desenvolvidos reconhecem que, fruto da selecção, vão perdendo a possibilidade de proceder a novos cruzamentos, porque já perderam as variedades ditas tradicionais”, revelou. Nalguns casos, afirma, “há até situações extremas em que os últimos pés-mães conhecidos de uma determinada variedade se perderam já em todo o lado, só restando os descendentes mantidos no âmbito deste programa”. Existem nos Açores alguns campos experimentais para a preservação das espécies tradicionais. Os serviços de ilha da Secretaria Regional da Agricultura e Florestas disponibilizam terrenos, técnicos e viaturas para garantir a realização deste trabalho. Até porque conhecem o terreno e os produtores tradicionais, em busca da “macieira do trisavô”, por assim dizer, que é um património genético para lá do seu real valor comercial. Em todas as ilhas, há frutas ou legumes típicos de uma freguesia, que resultaram em variedades tradicionais. “É o nosso cofre no meio do Oceano”, admite José António Ávila. “Há vários casos que estão reconhecidos e em que se veio encontrar variedades nos Açores que em muitos outros sítios já desapareceram. Por exemplo, não muito longe daqui, nas Canárias, eles ficaram muito surpreendidos com a variedade que vieram encontrar nos Açores”, revela. Segundo admite este responsável ligado ao projecto Germobanco, “o que é preciso é matéria-prima para trabalhar e isso nós temos. Até do ponto de vista turístico, isso é muito importante, porque conseguimos criar parques e ambientes rurais ainda carregados de um património que já se perdeu em muitos sítios. Pode-se andar pela Europa e ver a mesma macieira, hectares e hectares a fio, enquanto que se chega cá ao Arquipélago Açoriano e se vê macieiras diferentes, com um sabor diferente, que já não se encontra em mais nenhum lado”. Esta semana, recomeçaram as recolhas de material biológico relativas a mais variedades tradicionais. Durante quinze dias, em seis ilhas, serão feitas recolhas de variedades de macieira, castanheiro, milho, inhame ou batata-doce, em busca da preservação do bom sabor dos velhos tempos nos Açores.
Os “Bancos de Germoplasma”, uma iniciativa do projecto GERMOBANCO, contam já com mais de 700 entradas nos Açores, no que diz respeito à recolha de material biológico de espécies vegetais tradicionais do arquipélago. De acordo com o professor da Universidade dos Açores, David Horta Lopes, “isto não significa que tenhamos 700 espécies identificadas, mas estão a ser dados passos importantes no que diz respeito à recolha de material, com um grande peso na recolha de variedades do milho”.O objectivo do projecto é fazer um levantamento das espécies vegetais tradicionais das ilhas, a sua caracterização molecular e multiplicação “in vitro”. “Com o Germobanco III, estendemos a nossa acção às ilhas de Santa Maria, São Miguel, Faial, Pico e São Jorge. Fizemos a recolha de espécies vegetais há cerca de duas semanas. Este projecto, financiado pelo Interreg III-B, tem a ver com a possibilidade de manter colecções activas e passivas de espécies tradicionais fortemente ameaçadas”, explica o presidente da Fruter, responsável pelo projecto nos Açores. Os trabalhos de recolha incidiram sobre as variedades de macieira, castanheiro, milho, inhame e batata-doce, entre outras. Segundo Sieuve de Meneses, já aconteceu “existir uma ou duas plantas, cujo único exemplar desapareceu, mas conseguimos recolher amostras. Se não o tivéssemos feito, era uma espécie extinta”. “Este projecto permite criar bancos genéticos de determinadas variedades. No caso dos transgénicos, podem surgir problemas tão graves que coloquem a espécie em perigo. Nesse caso, temos a espécie original”.O trabalho desenvolvido pode, também, valorizar os próprios produtos agrícolas. “No caso das Canárias, recuperou-se uma espécie antiga de batata, com elevado valor comercial. Os agricultores adquirem as sementes, limpas de doenças, no laboratório, e aumentam o seu lucro”. Quanto ao futuro do projecto, os responsáveis esperam uma política de continuidade. “É um projecto importante para os Açores” que contribui obviamente para o desenvolvimento sustentavel do Arquipélago na medida que promove a conservação da biodiversidade, via valorização das plantas pela "cultura popular", fazendo-se o entrosamento entre o ter, saber usar e racionalizar e potencializar recursos.

segunda-feira, março 05, 2007

Alterações climáticas e recursos hídricos insulares

Este tema foi apresentado no 6º Encontro Regional de Eco-Escolas, realizado nos dias 2 e 3 de Março de 2007 em Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, pelo Professor Francisco Cota Rodrigues.
A recarga dos aquíferos das ilhas vulcânicas recentes, como são as dos Açores, são muito dependentes do regime de precipitação, assim, uma alteração da sazonalidade das chuvas terá impactos negativos na quantidade de água disponível para consumo.
Verifica-se nos aquíferos suspensos das ilhas variações drásticas dos caudais quando não existe recarga por períodos superiores a 15 dias, havendo no entanto algumas excepções.
O aquífero basal que geralmente corresponde a uma camada de água doce que sobrenada a água salgada é utilizada em todas as ilhas para abastecimento da população, sendo a sua qualidade inferior à da água dos aquíferos suspensos. O volume desse aquífero também é dependente da recarga, ou seja, da precipitação.
A subida do nível médio da água do mar, não terá, aparentemente impacto nesse aquífero dado que a água doce, em equilíbrio hidrostático com a água salgada, subirá, continuando a verificar-se a relação de 1 para 40 (por cada unidade de água acima do nivel zero da ilha, encontram-se 40 unidades de água doce abaixo desse nível).


No que respeita à salinização, a existência de descontinuidades ou fracturas nos bordos das ilhas poderá produzir uma diminuição da qualidade da água tornando-a assim mais salobra (maior nível de cloretos).
Flutuações dos níveis do aquífero basal tem sido observadas e correspondem a flutuações da precipitação.


Os aquíferos de baixa altitude se entrarem em contacto directo com a água do mar, poderão ser totalmente inutilizados. No caso dos Açores, esses aquíferos são pouco expressivos.

A recarga em altitude está também em parte dependente da existência de turfeiras que drenam para as ribeiras contribuindo para a manutenção dos seus caudais. Assim, uma alteração desses habitats terá consequências no regime hídrico das ribeiras e da água disponível nas ilhas.

Biodiversidade e alterações climáticas

Este foi o tema das conferências proferidas em Angra do Heroísmo e Ponta Delgada pelo Professor Eduardo Dias no 6º Encontro Regional de Eco-Escolas.
Centrando-se no ciclo do carbono, teceram-se várias considerações acerca das emissões e sumidouros naturais de carbono.
Foram referidos os processos de absorção de dióxido de carbono pelas florestas em crescimento, pelas zonas húmidas do planeta e pelo oceano. Por outro lado foram referidas as emissões resultantes da queima de biomassa e dos recursos fósseis do planeta.
Quanto aos impactos das alterações climáticas globais na biodiversidade açoriana, mais concretamente nalgumas espécies endémicas, foi referido que dada a grande amplitude ecológica e altitudinal de espécies como a Erica azorica, o Laurus azorica, Piconia azorica ou Juniperus brevifolia, não é licito pensar-se na extinção dessas espécies. Os casos mais problemáticos poderão ocorrer nas espécies que ocupam as falésias da ilha, que com a erosão e a subida do nível médio da água do mar, poderão sim estar em risco.

Laurus azorica


Erica azorica

As ameaças à biodiversidade açoriana resultantes das alterações climáticas prender-se-ão com os problemas derivados da erosão, desabamentos, alteração hidrológica, avanço de exóticas e fragmentação de habitats. Nos Açores tem-se verificado a capacidade de algumas espécies se adaptarem a zonas alteradas resultantes de desabamento e a fragmentação de habitats que ocorre desde a época do povoamento. Nesse aspectos o estudo das adaptações de espécies a essas perturbações pode ser muito importante para o estabelecimento de medidas de mitigação das alterações climáticas, a nível continental, para combater a perda de biodiversidade.

Alterações do Clima e suas implicações no Atlântico

Este foi o título da comunicação do Professor Eduardo Brito de Azevedo, proferida em Angra do Heroísmo e Ponta Delgada nos dias 2 e 3 de Março no 6º Encontro Regional de Eco-Escolas promovido pela Direcção Regional de Promoção Ambiental da Secretaria regional do Ambiente e do Mar dos Açores.
Apesar das tendências de evolução da temperatura para o Arquipélago apontarem valores menores de subida do que aqueles que se preveem para o território continental, não implica que os impactos das alterações climáticas na região sejam menores do que a nível continental, pelo contrário, poderão ser mais preocupantes, porque:
-As ilhas estão muito dependentes do regime pluviométrico,
-O efeito da intensificação das circulações ciclónicas podem ser devastadores, e,
- A erosão costeira poderá ser incrementada, entre outros aspectos.
O clima dos Açores é essencialmente ditado pela localização geográfica das ilhas no contexto da circulação global atmosférica e oceânica e pela influência da massa aquática da qual emergem. Tem uma variação significativa de um extremo ao outro do Arquipélago, ou seja do Grupo Ocidental ao Grupo Oriental, mas também uma variação significativa com a altitude.
O desenvolvimento em altitude e o carácter acidentado do relevo favorecem a diversidade de aspectos particulares do clima relacionados com o regime advectivo e o regime radiativo.
Por esse motivo, a variação espacial das condições climáticas é mais acentuada e mais rápida do que em outras regiões mais aplanadas.

Alterações Climáticas Globais! Investigue-se.

Havendo ainda muita descrença relativamente às Alterações Climáticas Globais, ou desconhecimento dos múltiplos processos nelas envolvidos, crê-se ser necessário alterar, quando possível, os processos de aquisição e transmissão desses conhecimentos quer ao nível da população estudantil ou ao nível da população em geral.
A descrição de fenómenos não vivenciados, não percepcionados e não validados confunde-se com um exercício de retórica. Por outro lado, os impactos previstos das alterações climáticas globais resultam de complexos processos de simulação aos quais a maioria da população é alheia. É a experiência quem nos impregna os sentidos e tenta fazer de nós os reais tradutores do mundo, mesmo que não se domine por completo a sua linguagem. Há necessidade de meditar e raciocinar em torno da problemática das Alterações Climáticas Globais para se distinguir a escala do real da escala do imaginário ou da mera linguagem.

Um estudo de impacto não passa de uma previsão baseada em determinados comportamentos ou tendências naturais. Os impactos resultantes das Alterações Climáticas Globais têm por detrás estudos de tendências e de efeitos singulares ou cumulativos. Estudar essas tendências ou esses efeitos contribuirá certamente para uma melhor compreensão da problemática ou até mesmo levar à alteração de comportamentos. É a recolha e tratamento de dados que nos permite entrar no mundo das previsões de impactos.
Este foi o tema abordado pelo Professor Félix Rodrigues nas conferências proferidas em Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, nos dias 2 e 3 de Março no 6º Encontro Regional de Eco-Escolas.
A necessidade de aproximar do cidadão, a nível local, os fenómenos associados às Alterações Climáticas Globais, passará pela investigação dos fenómenos que a elas possam estar associadas. Essa investigação resultará do confronto constante do passado com o presente.