sexta-feira, abril 27, 2007

Recuperação do Paul da Praia da Vitória não reflecte a visão científica

O Professor Eduardo Dias, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, garante que o projecto para o Paul da Praia não traduz o estado original daquela zona. O projecto do Parque Turístico/Ambiental do Paul, na Praia da Vitória, não traduz o paul original. O Professor Eduardo Dias, biólogo e professor da Universidade dos Açores assume que nem “se conhece o paul original, até porque a ideia que dele se tem, ligada às imagens do século XIX”, está longe daquilo que poderá ter sido aquele local. “Pelos documentos e referências consultadas, e sobretudo pelas análises ali efectuadas, a ideia que temos é que, na altura do povoamento, o que ali deve ter existido estava mais próximo de uma ria do que de uma lagoa. Esta parece ser o resultado do homem, que terá tentado ali alguma aquacultura durante os séculos XVI e XVII”. Para Eduardo Dias, o projecto - estando em curso a construção - do paul revela o que denomina de “engenharia natural”: “ali vai colocar-se um sistema no lugar de outro”.“Isso é legítimo, mas não se pode declarar que ali vai surgir o paul antigo. A questão - a meu ver - é se ali se quer criar um parque zoológico, então o projecto vai nesse sentido; mas se ali querem um espaço natural com alguma genuinidade, então aquela não é a opção”, explica o biólogo.“Analisando o projecto, fica-se com a ideia de que quem o fez não tem a concepção do que é uma zona húmida”, enfatiza Eduardo Dias. Segundo o biólogo, é possível “outra solução, que procure o paul original”.“É possível recriar esse ambiente, mas não é possível re-naturalizar o espaço”, assume.

AVES AO LONGE...

Para o professor universitário Eduardo Dias - que realizou alguns estudos sobre a zona do paul da Praia da Vitória - outra das ideias que pode não ter resultado (tendo em conta o projecto apresentado) é conseguir no parque uma zona de observação de aves. “As aves migratórias que utilizam aquelas paragens são, por natureza, tímidas, e necessitam de recato para descansar. Daí que concentrar nas imediações um espaço para concertos, zonas de passeio e lazer e um espelho de água, é um erro, porque essas aves procurarão outros locais para descansar”, explica o académico.

PERIGOS...

Eduardo Dias avisa ainda para os perigos que podem surgir naquele local. “As zonas húmidas são, por natureza, locais poluídos. Aliás, as análises que ali foram efectuadas mostraram valores elevados de substâncias tóxicas. Claro que, do ponto de vista natural, esta perigosidade não é má. Mas é preciso ter isso em conta quando se planeia para aquele lugar zonas de lazer, incluíndo uma área de água”, argumenta o professor, que aconselha a cuidados pormenorizados em relação a estas questões. Eduardo Dias adianta que ou se aplicam naquele local os métodos de controlo rigoroso do espaço natural, para evitar problemas, ou então - querendo deixar-se a natureza à sua sorte - o melhor é procurar outras soluções. Na última semana, começaram os trabalhos para a construção do futuro parque ambiental do Paul, na zona Norte da Praia.
PROJECTO EM EXECUÇÃO NÃO REFLECTE VISÃO CIENTÍFICA

O professor universitário Eduardo Dias assume não se rever no projecto para o parque ambiental do paul, na Praia da Vitória.“Não me revejo naquela proposta, assim como não me revejo naquele trabalho, muito menos nos pressupostos científicos”, sublinha, recusando qualquer ideia que defenda a existência de suporte científico da Universidade dos Açores aquele projecto. “Da parte da minha equipa, os trabalhos que realizamos foram abandonados por não terem consequência. Aliás, a proposta da empresa que venceu aquela obra não teve em conta as conclusões a que vários investigadores chegaram no âmbito de alguns estudos”, assume, garantindo que mesmo os estudos realizados careciam de aprofundamento.“Houve alguns trabalhos isolados, mas que não permitiram uma visão global daquela área”, sublinha o académico. Crítico em relação ao projecto para o futuro Parque Turístico/Ambiental do Paul, Eduardo Dias assume, no entanto, que é possível fazerem ali o que bem entenderem, “desde que não se venda a ideia de recuperação do paul original”.


(in Diário Insular)