domingo, julho 08, 2007

Gestão e Conservação da Natureza

No 13º Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional, 1º Congresso de Gestão e Conservação da Natureza e 1º Congresso Lusófono de Ciência Regional, que decorreu no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores discutiu-se o tema da Gestão e Conservação da Natureza.
A actualidade e relevância dos temas relacionados com o ordenamento do território, como “alavanca” de um desenvolvimento sustentado e sustentável, nomeadamente em áreas consideradas periféricas e em vias de desenvolvimento, ditou a elaboração do trabalho de Pedro Sevinate Pinto e A. Monteiro Almeida. Esse trabalho é enquadrado ao nível da análise biofísica do território, foi encomendado pelo Governo Provincial da Huíla (Angola) e elaborado em âmbito do Plano de Desenvolvimento da Província da Huíla (PDH). Tratando-se a análise biofísica de um dos vectores equacionados neste plano provincial, assumiram-no claramente como um dos eixos de base tratados, com o intuito de suportar medidas e políticas futuras, adoptadas à escala de desenvolvimento do plano, numa lógica de respeito pelo meio e pelas suas características intrínsecas.
O resultado de todo este projecto está expresso num relatório denominado Caracterização Ambiental da Província da Huíla, do qual a comunicação apresentada resumiu as principais metodologias empregues e resultados alcançados ao longo da elaboração do PDH.
Brígida Alexandra Brás Lopes e Luís Claúdio Brito B. G. Quinta-Nova afirmaram que as políticas condicionam a conservação dos recursos naturais e o ordenamento do território determinando o desenvolvimento sustentável da sociedade. Com esta comunicação pretenderam verificar a influência das políticas agro-florestais na transformação da ocupação do solo do concelho de Constância, considerando os anos de 1970, 1983 e 1990, avaliando a adequabilidade da ocupação do território à potencialidade de uso do solo. Esse propósito foi conseguido pela análise da evolução temporal dos padrões espaciais da área em estudo, com recurso a tecnologias de sistemas de informação geográfica e a métodos de quantificação da paisagem. Os resultados obtidos mostraram que houve uma evolução da paisagem, no período em estudo, ocorrendo situações distintas. O montado de sobro que seria a ocupação predominante no solo, no início do período temporal declinou gradualmente. Os povoamentos de eucalipto viram a sua área aumentar, pela substituição de outras ocupações, tanto florestais, como agrícolas ou zonas de vegetação natural. O contexto histórico-político português e consequentemente as políticas agro-florestais que daí advieram influenciaram a transformação do uso do solo, que esteve mais adequado à potencialidade de uso do solo.
Os factores que influenciam a ocorrência e a propagação dos fogos florestais são as condições meteorológicas, o combustível florestal e a topografia da região. Com o estudo de Maria do Carmo Nunes ; Maria J. Vasconcelos e José M. C. Pereira pretendeu-se investigar, se os fogos florestais são selectivos em relação à topografia, nomeadamente se existe preferência por determinadas classes de exposição das encostas, como se verificou relativamente ao coberto vegetal em trabalhos já publicados pelos autores. A análise estatística foi efectuada a duas escalas espaciais - local e regional, sendo os fogos agrupados em três classes de tamanho, para avaliar os padrões de selectividade relativamente à sua dimensão. Esta estratificação dos dados permitiu, indirectamente, inferir se são as condições meteorológicas ou a exposição das encostas que determinam preferencialmente a propagação dos fogos, uma vez que os fogos grandes acontecem em condições extremas, de ventos fortes e temperaturas elevadas. Os resultados indicam que, independentemente da sua dimensão, os fogos são selectivos à exposição das encostas, sendo esta selectividade mais relevante nos fogos grandes. Esta abordagem permite responder a questões pertinentes para o ordenamento florestal do país, com a identificação de potenciais padrões de selecção do fogo.
A importância da Lagoa de Santo André para a conservação da biodiversidade tem vindo a ser reconhecida ao longo dos últimos anos (RAMSAR, ZPE, Rede Natura 2000), culminando com a sua inclusão na Rede Nacional de Áreas Protegidas (Reserva Natural das Lagoas de Santo André e Sancha) no ano 2000. Neste contexto, destaca-se a avifauna que nela ocorre, na qual se incluem espécies migratórias e/ou com elevado estatuto de conservação, o que foi determinante para a sua escolha como local de anilhagem de aves ao longo dos últimos 30 anos e de que resultam as séries temporais mais completas que existem em território nacional. Durante os anos de 2005 e 2006, Miguel Silveira ; Paulo Encarnação ; Ana Vidal e Luís Cancela da Fonseca monitorizaram a presença de aves aquáticas em vários sectores da laguna. Os resultados obtidos, além dos valores elevados registados para diferentes espécies de aves, confirmam a importância desta área, no contexto nacional, para o Galeirão (Fulica atra). Ressalta também a presença do Pato de Bico Vermelho (Netta rufina), uma das espécies com estatuto de conservação mais elevado. A distribuição das diferentes espécies pelos diversos sectores forneceu indicações sobre a respectiva importância para os diferentes grupos de aves considerados, quer em termos espaciais, quer ao longo de um ciclo anual (2006). Estes resultados evidenciam ainda a importância de uma monitorização regular da presença de aves na laguna e indicam que a análise cuidada desses resultados poderá fornecer recomendações importantes para a gestão desta área protegida.
As paisagens rurais Portuguesas, embora caracterizadas pela longa história de humanização, apresentam actualmente uma clara tendência para o despovoamento. Assim, afigura-se oportuno, em contextos de ordenamento do território, estudar a revalorização destas áreas para um novo uso, o da conservação da vida selvagem, em que a intervenção humana seja mínima e os processos naturais os principais responsáveis pela dinâmica do ecossistema, à imagem do conceito de wilderness. O conceito de wilderness está associado a zonas longe da influência das actividades humanas, áreas naturalmente propícias para a existência e manutenção da vida selvagem. Considerando, como ponto de partida, uma adaptação do conceito de wilderness à realidade nacional, a investigação desenvolvida por Ana Luisa Gomes da Cruz centrou-se no propósito da modelação espacial de uma avaliação de perturbações ambientais, directas ou indirectas, provenientes das actividades humanas. Para tal, desenvolveu-se uma metodologia aplicada ao território de Portugal Continental, com base num sistema pericial associado a métodos heurísticos, que através de algoritmos de optimização, permitem gerar propostas de "Áreas para a Conservação da Vida Selvagem (ACVS)".
O Hyper-cluster do Mar surge actualmente com uma atenção reforçada fruto da mediatização provocada pelo desenvolvimento de diferentes instrumentos de Estratégia e Planeamento Territorial que procuram ordenar o litoral e o acesso e exploração dos recursos marinhos. O projecto BIOMARES, a decorrer entre 2007 e 2011, financiado pelo programa Life-Natureza da Comissão Europeia pelos parceiros e pela SECIL, Sociedade de Cimentos e Cal, S.A., foca a sua atenção na recuperação das pradarias de plantas marinhas que irá permitir a recuperação de habitats macro e micro biológicos na zona do Portinho da Arrábida. Mas afinal qual a mais-valia desta iniciativa? A comunicação de Alexandra Cunha e Hugo Pinto pretendeu ser uma reflexão sobre os benefícios e perdas que poderão advir deste projecto, e não apenas para os habitats marinhos, que poderão recuperar grande parte da biodiversidade desaparecida nos últimos trinta anos. Para este objectivo procurou-se indicar o que se poderá perder e ganhar com a inexistência das plantas marinhas uma vez que a sua influência sobre vários quadrantes da economia, como a pesca ou o turismo é relevante.
Nos Açores, a biodiversidade foi desde cedo fonte de interesse científico particularmente evidente por parte dos naturalistas europeus do séc. XIX. Desde então, a biodiversidade dos sistemas lóticos não foi objecto de investigação por ventura em consequência das suas características particulares que os tornam à primeira vista desprovidos de interesse. Os cursos de água do Arquipélago são de pequena dimensão pelo que se designam de ribeiras. Apresentam regimes torrenciais, baixa heterogeneidade espacial e baixa diversidade de habitats que limitam o potencial de estabelecimento de macroinvertebrados e diatomáceas. Vários trabalhos têm vindo recentemente a contribuir para o conhecimento da biodiversidade Macaronésica destes ecossistemas e permitiram a identificação de locais com elevado valor ecológico (sítios de referência), muitos deles localizados em Sítios de Interesse Comunitário (SIC) e Zonas de Protecção Especial (ZPE) e por isso abrangidos pelas Directiva 92/43/CEE (Habitats), Rede Natura 2000 e pela Directiva Quadro da Água (DQA).
Os padrões de qualidade ecológica definidos para os locais de referência assim determinados, constituirão as metas de qualidade a atingir para os cursos de água dentro da mesma categoria, só passíveis de ser alcançadas através de medidas de gestão ambiental, defenderam P. Raposeiro ; A. Costa e V. Gonçalves.
A biodiversidade e conservação nos Açores tornou-se particularmente importante quando a valorização da singularidade do seu biota extravasou o domínio científico para a opinião pública e politica. O trabalho de A. Costa ; M. Dionisio e Pedro Rodrigues foca o estudo das zonas costeiras no Arquipélago onde estas zonas apresentam uma grande representatividade territorial e complexidade ecológica com reunião de diversos habitats e espécies. Simultaneamente, é na zona costeira que as pressões antropogénicas se fazem sentir com maior intensidade pois esta apresenta um papel estratégico no desenvolvimento local e regional. Com base no levantamento da fauna e flora marinha, terrestre e dulçaquicola da zona costeira de algumas ilhas do arquipélago (ilhas do Corvo, Flores, Graciosa e Santa Maria) efectuado por pesquisa bibliográfica, com recurso a bases de dados existentes e por observação in loco foram identificados hot spots e zonas sensíveis de biodiversidade. A conservação destas zonas, imprescindíveis na sua gestão integrada, e cuja importância para os Açores é inquestionável, constitui uma componente importante nos Planos de Ordenamento da Orla Costeira em curso.
Ana Isabel Cabral apresentou um trabalho que teve como objectivo obter um mapa de coberto do solo para Angola, utilizando imagens diárias provenientes do sensor Moderate Resolution Imaging Spetroradiometer (MODIS) para quatro meses do ano de 2003. Como aquelas imagens estão sujeitas a contaminação atmosférica e à existência de nuvens no momento de registo é necessário recorrer a um critério de composição multitemporal para tentar eliminar estes efeitos. A aplicação deste critério gera imagens síntese mensais que são usadas num algoritmo de classificação em árvore. Para construir o classificador e para validar o resultado obtido, recolheram-se amostras dos vários tipos de coberto do solo nos mapas de coberto do solo existentes a diferentes escalas, na bibliografia sobre vegetação em Angola e em imagens de satélite Landsat. A avaliação dos resultados foi baseada no método de validação cruzada, que utiliza o mesmo conjunto de dados na validação e na classificação e no método que recorre a um conjunto de dados independentes ao classificador. Como resultado obteve-se um mapa actualizado e uniforme para 2003, por um método expedito que permite actualizar a cartografia para vários anos de modo a detectar as alterações ocorridas.
Um dos desafios que se coloca actualmente, em matéria de gestão das zonas costeiras, está relacionado com o processo de avaliação, monitorização e acompanhamento do desenvolvimento destes territórios complexos. O trabalho de Fátima Lopes Alves destaca a necessidade de criação de instrumentos de monitorização e acompanhamento que apoiem, de modo sistemático e contínuo, o processo de tomada de decisão. A discussão centrou-se sobretudo, no estudo de caso da Região Centro, área particularmente sujeita a processos severos de erosão costeira e de pressão urbano-turística, permitindo demonstrar que um modelo de avaliação e monitorização da zona costeira (ambiente terrestre e marítimo) deverá ter, na sua génese, a criação de unidades regionais de observação contínua do seu desenvolvimento apoiado em centros de I&D já existentes, em Portugal.
A Asphodelus bento-rainhae P.Silva é uma espécie de Liliaceae endémica da vertente norte da Serra da Gardunha (Fundão). O objectivo do trabalho de Lurdes Esteves ; F. Queirós ; L. Quinta-Nova e J.P.F. Almeida foi determinar a abundância da espécie em função do habitat onde esta ocorre. Com base nos resultados obtidos pretenderam contribuir para uma gestão que vise compatibilizar os usos agro-florestal do solo com a conservação da espécie. A maior densidade total da espécie (5,09/m2) verificou-se em habitats pouco abertos (bosque de castanheiro e bosque de pinheiro, e orlas de bosque), enquanto que a densidade de floração foi significativamente superior (0,91/m2) em habitats de menor grau de cobertura (orlas de cerejal, cerejal sem intervenção, orlas de bosque e matos). Relativamente à gestão agroflorestal da área de estudo estes resultados parecem mostrar que é possível a compatibilização dos pomares de cerejeiras com a conservação de A. bento-rainhae, desde que o controlo da vegetação seja realizado de forma a não comprometer a presença dos indivíduos. Relativamente às áreas florestais seria interessante aplicar medidas de gestão que permitissem diminuir o grau de cobertura de modo a aumentar a taxa de floração das populações.
A Megabalanus azoricus (Pilsbry, 1916) é uma espécie nativa do arquipélago que apesar de ser reconhecida em toda a região onde sofre uma elevada exploração, só agora foi objecto de um estudo alargado. A. Costa ; A. Pagarete e M. Dionisio apresentaram os primeiros resultados do projecto POCI/MAR/58185/2004 financiado pela FCT que visa o estudo dos aspectos da biologia desta espécie considerada pela OSPAR em risco e com necessidade de estudo urgente. A descrição de Megabalanus azoricus foi revista e pela primeira vez obtiveram-se larvas em laboratório. Iniciou-se uma inventariação de populações em várias ilhas do Arquipélago. Os estudos de reprodução realizados, baseados no estudo macroscópico e estereológico das gónadas de uma população de São Miguel permitiram verificar que estas cracas nos Açores apresentam-se sexualmente maturas ao longo de todo o ano, embora não se tenha registado produção de ovos em Novembro, Março e Agosto. Foram comparadas algumas populações provenientes de várias ilhas através da comparação das respectivas sequências de X de dois fragmentos COI-COII e 18S-ITS1 tendo-se verificado uma baixa variabilidade nos haplotipos de ambos os marcadores, o que não suporta níveis de diferenciação significativos entre as populações.
A maioria das avaliações de perda de solos por erosão hídrica em Cabo Verde foi realizada nas décadas de 80 e 90 e incidiram na ilha de Santiago, em particular na bacia da Ribeira Seca. Basearam-se em cálculos empíricos, em medições de carga sólida de cursos de água ou dos sedimentos acumulados em diques e em registos de parcelas instaladas em vertentes. Os resultados obtidos foram muito díspares, utilizaram séries curtas de dados e as perdas de solo não foram relacionadas com os processos erosivos que as originaram, nem com as condições locais de erosividade e de erodibilidade. O trabalho apresentado por Fernando L. Costa e M. Carmo Nunes surge na sequência de outros já realizados pelos autores, sobre os processos erosivos e suas condicionantes na bacia da Ribeira Seca. Pretenderam avaliar a importância relativa de variáveis morfológicas e geológicas de erodibilidade, cujo papel foi reconhecido localmente, e comparar com os factores correspondentes da Equação Universal da Perda de Solo (USLE-Wischmeier). Concluiram que os resultados obtidos com base nas variáveis geomorfológicas, como utilizam a informação à escala da vertente, traduzem melhor a realidade observada do que os baseados em factores da USLE, que a tratam a nível regional.
Ana Frutuoso ; Miguel Porto ; Tiago Marques e Pedro Beja, num trabalho realizado na Serra do Caldeirão (Sul de Portugal), em povoamentos florestais dominados por sobreiro (Quercus suber) e medronheiro (Abutus unedo) descreveram a diversidade de macrofungos florestais ectomicorrízicos e sapróbios, relacionando-a com a idade desde a última desmatação e outras variáveis de habitat, de modo a concluir sobre uma potencial relação com a eliminação da vegetação espontânea. Foram seleccionadas 48 parcelas de amostragem, as quais foram inicialmente caracterizadas em termos de estrutura e composição da vegetação. As amostragens de macrofungos decorreram em 2 anos consecutivos (2004-2005), utilizando o método de amostragem pelas distâncias, recolhendo-se e identificando-se todos os carpóforos encontrados. Os dados foram tratados estatisticamente para cada análise realizada. Os resultados apontam para a presença de comunidades ectomicorrízicas e sapróbias muito diversificadas. A riqueza específica, abundância total e abundância dos géneros mais comuns parecem ser fortemente afectados pela idade da vegetação arbustiva. Em termos gerais, os resultados apontam para que a conservação do conjunto de espécies presentes na região requer a existência de parcelas florestais com diferentes idades do coberto arbustivo.
O Arquipélago dos Açores tem uma grande tradição Vitivinícola, sobretudo as Ilhas do Pico, Terceira e Graciosa afirma Maria Teresa Lima. A vinha foi no passado um sector de grande interesse económico, social, e que por razões várias veio a diminuir. A década de 90 do séc. passado deu um novo impulso à vitivinicultura com a criação das regiões demarcadas. Actualmente nos Biscoitos cerca de 85 % da área de vinha está abandonada, devido à falta de mão-de-obra e são as pessoas mais antigas que mantém esta cultura. Os mais novos não estão minimamente sensibilizados para isso. A Universidade dos Açores e a Escola Básica Integrada dos Biscoitos através do CITA- A (Centro de Investigação Tecnológica Agrária dos Açores), Europe Direct e com o apoio da Secretaria Regional da Agricultura e Florestas, estão a desenvolver um programa, nesta escola, para a Sensibilização das Crianças para a Cultura da Vinha. O objectivo é a sua preservação, torná-la sustentável, manter e valorizar esta paisagem ímpar. Não nos limitaremos à observação, os alunos irão acompanhar o ciclo da vinha, aprendendo as diferentes operações e executando-as, inclusive a laboração do vinho afirma Teresa Lima. Pensa-se que esta acção poderá deixar, às 14 crianças que a irão frequentar, sementes preciosas em ordem a criar o gosto pela vinha, sua importância social, económica, ambiental, cultural e turística. Assim está-se a contribuir no sentido da gestão e conservação da natureza da Região Vitivinícola dos Biscoitos.
As actividades económicas têm um impacto no território, verificando-se em estudos na área da conservação da natureza, de fragmentação de habitats e de agro-ecossistemas que as alterações no Uso do Solo afectam a Biodiversidade afirmam Francisco O. Dinis e Paulo A. V. Borges. O processo histórico de colonização dos Açores é responsável pela redução da área da floresta nativa das ilhas, com consequências na riqueza específica da fauna insular. Os nossos resultados, afirmam os autores, confirmam que as comunidades de artrópodes são afectados por um gradiente de intensificação do uso do solo. A pastagem semi-natural funciona como um habitat de transição, podendo ser potencialmente um corredor para um mecanismo de substituição de espécies indígenas por espécies exóticas na floresta Nativa. Quaisquer medidas de conservação e gestão da biodiversidade poderão ser avaliadas com o recurso a técnicas de modelação, a partir das relações quantificadas neste estudo.
Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) revelaram-se um instrumento de análise e de decisão fundamental em todos os processos da análise ambiental, afirma A. Monteiro Almeida e Pedro Sevinate Pinto. Estes foram empregues em análises espaciais dos vários elementos naturais considerados no Plano de Desenvolvimento da Província da Huíla (Angola) e em processos de análise espacial e modelação espacial complexos como: modelação climática; elaboração de cartografia de ocupação do solo por detecção remota; evolução da ocupação do solo; delimitação de Unidades de Paisagem e avaliação das susceptibilidades e potencialidades ambientais.
Para Vasco Silva ; L. Calado e Tomaz Dentinho, cada paradigma científico tem o seu próprio sistema de valoração. Os técnicos de recursos hídricos definem zonas de protecção das águas subterrâneas, normalmente associadas a nascentes e furos, assumindo que estas áreas demonstram a relevância para a manutenção da qualidade e da quantidade da água. Os cientistas socio-económicos também valorizam as coisas de acordo com o seu papel para a sociedade, ao longo do espaço e do tempo. Os economistas têm preferência pela análise custo - benefício, onde tudo pode ser traduzido para valor monetário. Logo a questão que se põe por detrás de todas estas filosofias e métodos de avaliação, é como tratar todos estes valores num sistema de apoio à decisão consistente. Estes considerandos são importantes na implementação da Gestão de Conflitos Agro-Ambientais na Protecção dos Recursos Hídricos Subterrâneos.
As espécies de roedores designadas de “comensais do Homem” colocam sérios problemas, gerando danos nomeadamente no rendimento agrícola e pecuário, nas infraestruturas e na saúde pública. Estes efeitos manifestam-se não só ao nível da saúde humana e do bem-estar das populações, mas também pela ameaça que as espécies invasoras representam para a biodiversidade nativa das ilhas onde são introduzidas. O trabalho de Ana Vinhas ; Michael Silva ; Paula Antunes ; Carlos Santos e Amélia Lopes alerta para a importância do envolvimento dos diversos agentes nos processos de controlo de pragas e propõe a adopção de um modelo de gestão baseado numa lógica pró-activa, recorrendo a uma abordagem integrada, considerando aspectos ecológicos, económicos e sociais na avaliação, e escolha das políticas. Para o efeito, analisa os factores que intervêm na dinâmica das populações e identifica as relações entre as causas últimas da proliferação de ratos e os seus impactes ambientais e sócio-económicos adoptando, como modelo conceptual base, a abordagem DPSIR utilizada pela Agência Europeia do Ambiente. O modelo de gestão proposto baseia-se numa estratégia integrada de controlo, adoptando uma perspectiva holística, visando a reconciliação dos conflitos gerados entre o sistema ambiental e o sistema humano.
A pesquisa sobre gestão e política pública para o desenvolvimento ambiental sustentável é concentrada na questão da reciclagem do lixo na Cidade de Curitiba por Gilson Batista de Oliveira e Aline Costa do Nascimento, pois essa tem uma prática de gestão ambiental modelo. As suas políticas servem de parâmetro para as várias metrópoles brasileiras. Em Curitiba, a administração municipal, ao invés de negar espaços para a subjectividade dos moradores locais, tende a ampliá-los de maneira inelutável. É isso que possibilita o êxito da promoção do desenvolvimento ambiental sustentável. A Cidade de Curitiba mostra-nos que com esforço e planeamento, é possível conciliar o crescimento urbano e a melhoria da qualidade de vida da população, desde que as medidas tomadas durante esse processo tenham como meta a sustentabilidade no espaço das cidades.
Com a padronização dos processos operacionais nos Municípios, utilizando a tecnologia como base, a tendência é que o controle das informações esteja facilmente acessível a todos os Órgãos de Segurança, com maior confiabilidade, independente das distâncias geográficas que os separam. No entanto, a experiência relatada por Bruno Giorge Palmieri é também um indicativo de que promover o desenvolvimento no mundo contemporâneo exige mais que o simples uso da tecnologia. É necessário que haja parcerias capazes de integrar acções e processos que perpassam tanto instituições públicas como privadas. O Sistema de Informações Geográficas pode tornar-se o ponto de partida capaz de nortear uma gestão integrada, evitando que esforços realizados isoladamente onerem os projectos e lhes confiram baixo potencial de eficácia.
Em espaços insulares, a gestão dos recursos hídricos constitui um pilar do desenvolvimento regional, quando estão em causa parcelas de território diminutas e reservas de água nem sempre acessíveis ao seu total aproveitamento, afirmam João Porteiro ; Sílvia Quadros ; Gualter Couto ; Pedro Pimentel e Nelson Santos. A utilização sustentável deste recurso renovável depende, mormente, da eficiência dos sistemas de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais, bem como da gestão económica e financeira daquelas infra-estruturas. Todavia, nem sempre é cumprido o objectivo estratégico de preservação da água, quando estão em causa problemas de concepção, funcionamento ou de gestão dos respectivos sistemas. Neste contexto, a comunicação apresentada por estes autores descreve a situação de referência da Região Autónoma dos Açores para 2005, a partir dos resultados do Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água e de Águas Residuais - Açores. Foram analisados parâmetros físicos e financeiros das 19 entidades gestoras, numa abordagem à sustentabilidade ambiental e económica. Os resultados demonstram uma situação pouco favorável em ambas as vertentes, devido às elevadas perdas de água nos sistemas de abastecimento de água, às descargas de águas residuais sem tratamento e aos resultados financeiros negativos, principalmente das entidades gestoras de menor dimensão.
O Projecto Interfruta II é um projecto apoiado pelo programa Interreg III-B, desenvolvido nas Ilhas da Madeira, Tenerife (Canárias) e Terceira (Açores) destinado a contribuir para a promoção da fruticultura e viticultura nestas três regiões insulares, procurando uma melhoria dos conhecimentos sobre os problemas fitossanitários que afectam as macieiras, bananeiras, castanheiros e a vinha, aplicando técnicas que contribuam decisivamente para o conhecimento e procura de soluções, numa vertente de prospecção das pragas-chave, fauna auxiliar, doenças e vírus que afectam essas culturas. David Horta Lopes; C. R. Perez; D. A. Pombo; R. Pimentel; M. Zorman; N. Macedo; M. C. F. Carvalho; L. Ornelas; J. T. Martins; J. D. Mumford e A. M. M. Mexia, destacam o facto de inicialmente se ter procedido à realização de 160 inquéritos aos produtores e ao levantamento e identificação, através de SIG, das áreas de produção frutícola da Ilha. Para a análise dos factores climáticos ao nível da parcela, foram instaladas nas três zonas em estudo, estações meteorológicas de leitura automática. Dentro dos problemas fitossanitários, na identificação das pragas-chave de cada cultura foi utilizada a observação visual de órgãos predefinidos e a monitorização através de armadilhas com feromona sexual e placas cromotrópicas com cola. Nos fungos foi utilizada a observação visual e na prospecção de vírus e fitoplasmas utilizaram-se técnicas moleculares (ELISA) e PCR. Na prospecção da fauna auxiliar foi a técnica dos batimentos (ou pancadas) e a armadilha Malaise. Após a identificação das pragas-chave de cada um das culturas, centrou-se a investigação sobre as mais importantes. A mosca-do-Mediterrâneo (C. capitata Wied.) foi uma delas, pelo que com o objectivo da sua monitorização, recorrendo aos SIG, foi montada uma rede de armadilhas em toda a ilha, abaixo dos 200 m de altitude. Na bananeira, centrou-se todo o trabalho no gorgulho-da-bananeira (Cosmopolitus sordidus Germar) e nas tripes. No castanheiro, o bichado-da-castanha (Cydia splendana Hubner) é que causa os maiores prejuízos, pelo que se procedeu à sua estimativa nas diferentes zonas de produção e à sua monitorização utilizando armadilhas com feromona sexual o que permitiu obter a sua curva de vôo. Na vinha, o míldio é a doença que mais contribuiu para a diminuição da produção de uva para vinho. Nas macieiras, os principais problemas decorrem da presença de aranhiço vermelho (Panonychus ulmi Koch), traça-oriental (Cydia molesta) e bichado (Cydia pomonella L.). Para a recolha e divulgação de toda a informação foi implementada um embrião de extensão agrária e construída uma página Web do projecto, disponível na Internet (www.interfuta.net) e uma base de dados fitossanitários de diagnóstico da Macaronésia (PROFITOMAC) para a identificação de todos os problemas que afectam estas culturas nos três arquipélagos em que o projecto de desenvolve.
O sistema de monitorização dos Planos de Ordenamento terá de avaliar o cumprimento dos objectivos inicialmente estabelecidos. Caso se verifiquem desvios é necessário corrigir as políticas de gestão aplicadas. A utilização de SIG facilita a implementação e monitorização destes Planos, através da possibilidade de integração da informação disponível, assim como de tratamento e análise da mesma; informação esta essencial para a definição de políticas de gestão do território e de recursos naturais, defende Rita Ferreira Anastácio. Assim, a construção de uma aplicação, após a implementação dos Planos de Ordenamento, para monitorização do processo e plano é indispensável, não só para o acompanhamento temporal da evolução no território, como para o cálculo de indicadores previamente estabelecidos, também estas ferramentas essenciais e objectivas de monitorização.
O Maciço Calcário Estremenho, individualiza-se perfeitamente em relação às regiões limítrofes, principalmente devido às suas características geológicas. A ocupação humana deste espaço é caracterizada, entre outros aspectos, pela construção duma paisagem onde dominam as paredes em pedra solta.
O trabalho de Fernando Faria Pereira, com o recurso a diversa informação informatizada, e utilização de um programa de informação geográfica, pretende avaliar até que ponto estas construções são importantes para conservação da natureza. Através do cruzamento de diversos instrumentos de ordenamento, como os Planos Directores Municipais e o Plano de Ordenamento da Área Protegida, com o traçado dos muros recolhido a partir das cartas militares, pretendeu verificar se as áreas identificadas como zonas importantes para a conservação correspondem, ou não, a zonas de maior densidade de muros.
No arquipélago dos Açores, o aproveitamento dos recursos minerais estrutura-se em nove distintos cenários de sustentabilidade, com uma perspectiva de auto-suficiência local muito elevada. Este sector foi, em tempos, um exemplo de sustentabilidade económica, sem existirem, no entanto, preocupações ambientais, que deixaram – e continuam a deixar – demasiadas agressões paisagísticas no território insular afirmam S. D. Caetano ; E. A. Lima ; S. Medeiros ; J. C. Nunes e T. Braga. No final do século XX, as políticas de ordenamento do território passaram a ter um papel fundamental na prevenção e contenção de usos e ocupações que inutilizam recursos subjacentes, o que tornou os Instrumentos de Gestão Territorial (IGT) muito importantes para a indústria extractiva. Nos Açores, até hoje, poucos IGT foram capazes de captar a especificidade desta actividade, condicionando-a a processos muito complexos. Com o Projecto GEOAVALIA (Prospecção e Avaliação de Recursos Minerais dos Açores) desenvolveu-se uma ferramenta inovadora, que integra toda a informação territorial da indústria extractiva nos Açores, de forma sistematizada, com toda a informação suportada num Sistema de Informação Geográfica (SIG). Esta ferramenta permitiu a caracterização da situação actual do território e será facilitadora para a tomada de decisões a nível municipal e regional, principalmente ao nível dos IGT.
A conservação dos ecossistemas naturais é cada vez mais uma preocupação omnipresente na agenda política, mas os recursos disponíveis para estes fins são limitados, já que esta não é a única prioridade social, afirmam A. De la Cruz ; A. Gil e J. Benedito. As decisões de atribuição de financiamento deveriam ser baseadas no incremento do bem-estar social produzido. Neste estudo os autores propuseram-se medir o bem-estar gerado por um projecto de gestão e conservação da natureza (Life PRIOLO), bem-estar este que se pode medir em termos económicos. Este bem-estar é gerado através dos efeitos que um projecto com estas características tem sobre a população local e através dos serviços dos ecossistemas, os quais são preservados pelas acções de conservação. Ainda que com carácter preliminar, os resultados mostram já a importância do projecto quer a nível socio-económico sobre a população local e regional, quer a nível dos serviços dos ecossistemas locais e globais, apesar de incidir sobre uma área relativamente pequena.
As diferenças de habitats, de densidade e da fenologia da Perdiz entre o Norte e o Sul do país suscitaram a realização do estudo comparativo através de três métodos de censo: transectos lineares, pontos-de-escuta com chamariz e batida em seco, por Andreia P. Dias ; António Luís e Luís Cancela da Fonseca. Estes autores verificaram grande associação entre descritores pertencentes ao Alentejo por um lado e ao Gerês, por outro. A presença/ausência de Perdizes/perdigotos e as características condicionantes do habitat confirmam a dependência da espécie a zonas planas com pasto com água e cereais. A presença de água será uma das características fundamentais do habitat, juntamente com o relevo e a existência de pastos e culturas cerealíferas. As baixas densidades estimadas em ambas as regiões resultam provavelmente do facto de o ano em estudo ter sido um ano de seca, anómalo no que respeita a disponibilidade de água.
Conhecer e classificar o território nas suas diferentes componentes e dinâmicas específicas é um passo incontornável para a sua recriação e valorização. O espaço litoral é um dos sub-sistemas específicos desse espaço geográfico e aquele que nas últimas décadas tem estado sob maior pressão. Por tal motivo, a sua delimitação no território, reveste-se de uma importância essencial para que as acções de planeamento sobre ele efectuadas se possam adequar e integrar nas especificidades inerentes, de modo a que as interferências nas interacções sistémicas e na sua dinâmica, seja equilibrada. Para que tal seja possível há que conhecê-lo e classificá-lo nas suas diferentes componentes e o ponto de partida deve ser a base física que é a unidade sobre o qual recaem todas as acções de planeamento: o relevo com a sua dinâmica. O Sistema de Análise Espacial em Geomorfologia Litoral (SAGLIT), apresentado por António Amílcar M. Alves da Silva é uma metodologia desenvolvida numa filosofia de sistemas de informação geográfica (SIG) cujo objectivo é direccionado para a identificação de geoformas litorais dinâmicamente activas, tendo como referência a obtenção de características inatas quantificáveis do terreno sem recorrer à identificação directa, permitindo ainda através da distribuição das entidades identificadas, delimitar o espaço litoral activo do ponto de vista geomorfológico. Deste modo obtém-se uma ferramenta de análise espacial que se pretende que seja capaz de contribuir para um melhor conhecimento do litoral e da sua dinâmica específica reflectida nas formas de relevo que apresenta.
A gestão agro-florestal sustentável e eficiente implica o reconhecimento do valor dos serviços ambientais e de recreio por ela proporcionados à sociedade e a necessidade de os valorizar. Esta pesquisa, desenvolvida por Adriana Ressurreição ; Fernando Páscoa e Margarida Tomé foi promovida pela necessidade de se obterem estimativas monetárias dos benefícios externos associadas aos usos do solo tradicionais em prática no concelho de Arganil. No plano metodológico, foi concretizada através do método de valoração contingente especificado para cenários alternativos de gestão da paisagem. Estas opções foram definidas como combinações de diversos atributos paisagísticos: matas de folhosas, agricultura tradicional em socalcos e prados para dois níveis de provisão (nível base e nível objectivo), às quais foi associado um preço. Os resultados obtidos revelam uma clara preferência pela gestão e conservação das matas de folhosas com utilização de recreio, o que evidencia a importância dos ganhos de bem-estar associados à componente de uso da paisagem. A opção de gestão conservação e revitalização de prados não foi considerada como geradora de ganhos de bem-estar, pelo que todas os programas que a contemplavam foram penalizados ao nível da disponibilidade a pagar pela sua conservação.
A Mata Nacional do Buçaco constitui um património único em Portugal e no Mundo, devido à sua história, património religioso, arquitectónico e natural. Em termos biológicos constitui uma das melhores colecções dendrológicas da Europa, estando associada à impressionante riqueza florística uma fauna da qual pouco se conhece. Em 2006 foi aprovado o Projecto de Valorização e Requalificação da Mata, que visa a elaboração e a implementação de um Plano de Ordenamento e de Gestão que integra, por exemplo, a criação de um Centro Interpretativo e o restauro de infra-estruturas, entre outras acções. O Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro tem a seu cargo toda a componente biológica (estudos da flora e fauna) deste Projecto, desenvolvido por Milena Matos ; Carlos Fonseca e Amadeu M. V. M. Soares, de forma a construir as bases científicas para um modelo de gestão que viabilize uma correcta exploração dos recursos naturais presentes, promovendo a conservação da biodiversidade, a educação ambiental e fomentando o turismo científico e ecológico. Dado o elevado número de visitantes que a Mata acolhe anualmente, a sua valorização e correcta promoção resultará indubitavelmente num precioso contributo para o desenvolvimento regional sustentável, a nível cultural, turístico e económico.