segunda-feira, setembro 10, 2007

Biofábrica para combater pragas pela técnica do macho estéril

Na década de 90, os Açores "passaram ao lado" da criação de uma biofrábrica. Hoje realizam-se testes recorrendo a insectos da Madeira.
O projecto pensado pelo professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Félix Rodrigues, foi chumbado pelo Governo Regional em 1992.
Uma biofábrica trabalha na produção de insectos que são esterilizados por radiação gama e posteriormente lançados no terreno com vista a combater pragas como a mosca da fruta ou o escaravelho japonês.
"Na década de 90 pensamos nesse projecto, da criação de uma biofábrica, que serviria não só a Região Açores como toda a Região da Macaronésia. Nesse sentido a Região passou ao lado da oportunidade de criar mais postos de trabalho e também de ganhar projecção internacional, bem como de implementar técnicas de esterilização que ajudassem no combate a pragas que chegassem ao Arquipélago ou que já cá existissem, como a mosca da fruta ", recorda o professor Félix Rodrigues.
Em relação à ideia que "chegou cedo de mais", Félix Rodrigues considera que , actualmente, não faz qualquer sentido criar uma biofábrica e tentar competir com a já criada no Arquipélago da Madeira.
"A ser criada, essa biofábrica faria sentido e seria rentável se servisse um território mais vasto. Para além dos Açores. É uma oportunidade definitivamente perdida.", adianta.
As declarações de Félix Rodrigues surgem após a realização de um teste da Universidade dos Açores, que lançou moscas do Mediterrâneo (Ceratitis capitata) num pomar dos Biscoitos na ilha Terceira, adquiridas na biofábrica da Madeira.
O teste realizado na zona da Cancela representou a terceira tentativa feita pelos especialistas da Universidade dos Açores, acompanhados por membros da biofábrica da Madeira.
O objectivo é estudar métodos de combate à praga da mosca da fruta, sendo que o teste realizado no ano anterior, na mesma zona, "não foi muito conclusivo" avançou o responsável pelo projecto INTERFRUTA, também docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, David Horta Lopes.
Quanto à eficácia da utilização das moscas estéreis no combate à mosca da fruta, Félix Rodrigues avança que os testes realizados nos Estados Unidos da América já provaram fornecer resultados positivos com outra espécie de mosca, que representava uma praga junto das explorações bovinas, visto depositar as suas larvas sob a pele dos animais. Além disso, refere que existem estudos recentes que apontam no sentido de existir uma elevada eficácia no combate à mosca da fruta (mosca do Mediterrâneo-Ceratitis capitata).
Já em relação ao escaravelho japonês (Popillia japonica), Félix Rodrigues avança que o combate através da esterilização da espécie se reveste de contornos mais complexos. "Como se trata de uma espécie poligâmica, em que a fêmea copula com vários machos, o facto de alguns machos serem inférteis não representa uma diminuição drástica da praga", explica o investigador universitário, salientando no entanto que "visto que se se faziam capturas de escaravelhos, esses podiam ser irradiados e largados outra vez no terreno. Não se iria traduzir na erradicação da praga, mas ajudaria a combatê-la".
Na MadeiraMed, a biofábrica criada na Camacha, produzem-se diáriamente perto de cinco milhões de moscas do mediterrâneo, a maior praga que afecta a fruticultura a nível mundial.
Com a produção semanal de 50 milhões de moscas, a biofábrica aposta na técnica do insecto estéril, que permite o controlo de pragas sem o recurso a pesticidas, numa prática que o professor Félix Rodrigues classifica como "ambientalmente amigável".
O Programa MadeiraMed utiliza normalmente a largada de moscas por via aérea. Através da técnica, o projecto madeirense pretende descer os níveis de infestação para dois por cento em dez espécies frutícolas.
Félix Rodrigues explica que as biofábricas trabalham na produção de insectos, neste caso em concreto moscas, que são sujeitas a radiação gama que os torna estéreis. Os insectos são posteriormente vendidos e lançados no terreno. "Especialmente em espécies monogâmicas, esta é uma técnica eficaz. Visto que os machos se tornam estéreis, mas não perdem o apetite sexual, indo competir pela fêmea, com os machos não estéreis. Isso faz com que a praga se reduza drásticamente.".

(In Diário Insular)

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