quarta-feira, setembro 12, 2007

Mitigação das Alterações Climáticas Globais nos Açores

O ordenamento do território será a chave para que os Açores possam enfrentar os efeitos das alterações climáticas previstas para os próximos anos. A certeza parte do professor universitário Eduardo Brito de Azevedo, responsável pelo projecto CLIMAAT, afecto ao Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. As declarações surgem a propósito do relatório sobre as regiões ultraperiféricas que a Comissão Europeia divulgou ontem (e que dá ênfase às alterações do clima como preocupação para o futuro das regiões insulares europeias, caso dos Açores), o académico e investigador explica que é “fundamental a região não comprometer o interior das ilhas”. “Um dos efeitos mais preocupantes ao nível das alterações climáticas nos açores prende-se com os seus recursos hídricos. Prevê-se uma maior frequência de tempestades, uma maior irregularidade da precipitação e a concentração da pluviosidade em períodos específicos. Ora, sabendo-se que, as ilhas têm pouca retenção hídrica, e que as recargas surgem no seu interior, é fundamental que encontremos modelos de desenvolvimento que concentrem as populações no litoral, libertando o interior para que a água siga o seu ciclo natural”, explica Brito de Azevedo, questionado quanto à forma como os Açores poderão enfrentar os efeitos previstos das alterações no clima mundial. “A isto” - adianta o investigador - “deve juntar-se uma gestão equilibrada dos nossos recursos”. “É importante, acima de tudo, que estudemos a nossa realidade, e que os nossos modelos de desenvolvimento se adeqúem a ela. Não devemos importar modelos testados noutros locais, que foram criados em função das condições desses mesmos locais”, sublinha o investigador. Eduardo Brito de Azevedo reconhece que as ilhas são os locais “mais vulneráveis às alterações do clima”, daí não se espantar com as preocupações de Bruxelas para com o efeito das alterações climáticas nas regiões ultraperiféricas. “Do mesmo modo, a aposta numa política marítima europeia é reflexo de que a União Europeia já percebeu uma das principais potencialidades dessas zonas, ou seja, o mar. Além disso, Bruxelas sabe também que as regiões ultraperiféricas lhe garantem a dimensão marítima, “importante para a salvaguarda da sua soberania” e do seu papel enquanto actor atlântico. A Comissão Europeia revelou, ontem, um relatório sobre as principais preocupações no futuro nas regiões ultraperiféricas que de seguida se resume.
O Impacto das alterações climatéricas e política marítima europeia são duas orientações que ressaltam do documento.
As novas orientações da Comissão Europeia para os Açores e Madeira, enquanto regiões ultraperiféricas (RUP), incluem a luta contra alterações climáticas e a política marítima europeia, segundo o documento divulgado, em Bruxelas.
O relatório, a que a Agência Lusa teve acesso, faz um balanço positivo de três anos de ajudas comunitárias às RUP, para compensar os custos excessivos ligados à sua situação geográfica e difícil acesso, e adopta novas áreas a apoia.

Por outro lado, adopta novas orientações para o período 2007-2013, ao mesmo tempo que lança um debate com as Instituições Europeias, os Estados-membros, as autoridades regionais, o sector da investigação e os círculos académicos.
Em relação à política marítima europeia, que está em debate e deverá ser adoptada ainda durante a presidência portuguesa da União Europeia, Bruxelas considera que a posição geográfica das RUP - oceanos Atlântico e Índico e mar das Caraíbas - dá à União Europeia (UE) uma dimensão marítima global.
Por outro lado, a Comissão Europeia considera que as RUP desempenham um papel importante no sector marítimo da UE, dado que são muito dependentes da sua relação com o mar.
Em relação às alterações climáticas, esta é uma questão prioritária nas ilhas, dada a sua vulnerabilidade aos efeitos do aquecimento global, como a subida do nível das águas do mar.
A ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos, como furacões, ciclones, seca ou inundações, é também alvo de preocupação, nomeadamente nos campos da monitorização e resposta a situações de catástrofe.
A estas medidas acrescem ainda a gestão das migrações - sendo as ilhas Canárias muito afectadas pela imigração ilegal - e as alterações demográficas.
Ao todo são sete regiões comunitárias - Madeira, Açores, Canárias (Espanha) e Guadalupe, Guiana, Martinica e Reunião (França) - que beneficiam de um programa específico de compensação, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), no quadro das perspectivas financeiras de 2007-2013 e com base na competitividade, acessibilidade e inserção regional.
Os Açores irão receber, até 2013, 966,3 milhões de euros do Programa Operacional do Feder, a que acrescem 190 milhões do Fundo Social Europeu.
A Madeira receberá, respectivamente, 320,5 milhões e 125 milhões de euros.
(In Diário Insular)

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