sábado, setembro 15, 2007

Recursos, Desenvolvimento e Ordenamento

O tema do congresso deste ano da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional é "Recursos, Desenvolvimento e Ordenamento". Não é grande novidade para a actual gíria política mas isso constitui uma das características da Ciência Regional, que vai andando atrás dos temas que os políticos e os jornalistas acham por bem tratar. E como o local do Congresso vai mudando de ano para ano, também se regista uma adaptação dos temas às agendas mais locais. É assim que o ano passado se tratou mais do turismo quando o Congresso foi no Algarve. É desta forma que actualmente há uma preocupação com o ordenamento de um espaço do noroeste do país que parece cada vez mais desordenado. É nesta senda que se está à espera de dialogar com as autoridades regionais e locais das ilhas dos Açores para que os temas do próximo congresso sirvam a ciência regional em geral mas o desenvolvimento regional das ilhas, por Estarmos no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
João Paulo Barbosa de Melo no discurso de abertura da reunião da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional deu conta das realizações e anseios da APDR: Organiza um Congresso anual, tem uma revista científica, várias edições de livros e compêndios, umas centenas de sócios e o anseio, cada vez mais realizado, de ser um parceiro de consulta em termos de intervenção pública.

Paul Cheshire, presidente da Associação Europeia para a Ciência Regional (ERSA), reportou também as realizações e anseios da ERSA. A grande novidade é que foi decidido avançar para uma organização profissional dos Congressos Anuais. A sede ficou em Louvain-la-Neuve. Está perto de Bruxelas e é através da União Europeia que é possível difundir o saber que se vai criando. A ideia é ter uma memória institucional que dê mais tempo aos investigadores e concentre recursos, naturalmente no centro. Essa memória institucional também pode ser transferida para os Cursos de Verão que leccionarão temas avançados para alunos de doutoramento durante dez anos. Na primeira sessão plenária houve três oradores. Vale a pena pegar no que disse Álvaro Domingues que apresentou o seu livro de fotografias "Cidade e Democracia" sobre ordenamento e desordenamento do território português. Disse que os territórios da urbanização não são apenas uma ampliação dos modelos urbanos antigos mas sim o resultado de uma nova ordem urbana onde a perda do centro, a perda da forma e a perda do limite tem provocado uma desconexão entre o conceito e a realidade. A cidade que conhecíamos é texto, linear, sequencial e ordenada para a nossa estrutura mental. O urbano, que as fotografias da "Cidade e Democracia" nos mostram, é hipertexto, e obriga-nos a um re-arranjo mental, não linear e fragmentado em que os escritores são também os leitores, correspondendo portanto a inúmeras cidades no mesmo espaço. Uma das imagens desta nova realidade é que o centro de acesso, de poder e de aglomeração deixaram de estar no mesmo local o que corresponde à aparente desarticulação da cidade.

Há questões que se colocam nesse debate: Será que estamos a criar coisas e cidades às quais não sabemos dar nome? Será que "A cidade e democracia" revela uma falha da democracia em que aquilo que as pessoas querem colectivamente não corresponde ao que fazem? Será que, com excesso de dinheiro público, nos apoiámos demais na política e na engenharia e nos esquecemos da reacção das pessoas e dos sítios?

(Prof. Tomaz Dentinho em A União)

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