segunda-feira, outubro 15, 2007

A valorização do leite açoriano

A Mestre Anabela Gomes, docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores em entrevista ao Diário Insular defende uma valorização do leite açoriano.

Diário Insular (DI)- O Presidente da República veio aos Açores dizer que o leite tem futuro (além de dizer que a Autonomia já tem poderes que cheguem, mas isso não vem agora para o caso…). Referia-se, certamente, ao valor económico do produto. Concorda?
Anabela Gomes (AG)- Concordo, porque a alimentação e a mão de obra são os parâmetros mais importantes da despesa de uma exploração leiteira. Nos Açores a mão de obra é maioritariamente familiar e as nossas condições de solo e clima são favoráveis ao pastoreio, que é uma forma barata de alimentar o gado. Para ser mais rentável a lavoura deve pedir ajuda para reduzir os custos de produção. A indústria tem que investir para aumentar o valor dos lacticínios em vez de ganhar dinheiro só à custa do aperto no preço de compra do leite. A lavoura açoriana continua a queixar-se de pouca valorização do seu leite, apesar dos aumentos recentes pressionados pelo mercado, onde o leite já começa a valer ouro, sobretudo devido à conjugação da explosão do consumo em mercados emergentes e na baixa produção em países tradicionais de grande produção (Austrália, Nova Zelândia, Brasil, entre outros).
DI- A lavoura tem razão?
AG- Pois tem, mas parte da valorização depende da qualidade do leite entregue na fábrica e isso é também da responsabilidade dos lavradores. A outra parte compete à indústria, que não tem sabido ou querido fazer um bom marketing, para valorizar as especificidades do leite quanto à origem e aos componentes.
DI- O leite açoriano e os lacticínios estão, em boa parte, em mãos externas, com particular destaque para a ilha Terceira, onde se vive uma situação de monopólio. O que motiva tais entidades a “abafarem” o sector nos Açores?
AG- Estamos a ser usados para satisfazer as necessidades das empresas do continente sem ter em atenção os interesses dos nossos lavradores e da Região. Mas como o dinheiro para construir e “modernizar” essas fábricas vem do nosso orçamento, é justo que se imponham as condições necessárias para acautelar a nossa economia e valorizar os lacticínios. Não se pense que é só a lavoura que perde dinheiro. O leite açoriano é pouco transformado em produtos de alto valor acrescentado, alguns deles vendidos hoje a altos preços e como produtos da linha de saúde. Sabe-se que o nosso leite é rico em componente úteis a tais segmentos.
DI- O que se passa?
AG- A investigação feita no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores prova cientificamente esse facto. A modernização dos lacticínios não é só betão e aço inox, mas é principalmente tecnologia alimentar...
(In Diário Insular)

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