sexta-feira, março 21, 2008

Mais Brasil

Continuo no Brasil, desta feita em São Paulo, para participar no Oitavo Congresso Mundial da Associação Internacional de Ciência Regional. A vinda do Rio para São Paulo foi bonita e difícil. Bonita porque o Brasil é de facto muito bonito, não só pela cidade de Petrópolis onde assistimos à missa e visitamos o Palácio Imperial, mas também toda a estrada ao longo do Rio Piabanha interior. A viagem também foi difícil porque, para além de ser comprida, transportava alguns passageiros vítimas de uma intoxicação alimentar que ainda dura, apesar dos remédios e do passar do tempo. No último texto dizia-vos que aqui se comia muito porque se cozinhava bem, o que é verdade. Hoje digo - vos que nos hotéis não será tanto assim pelo que testemunhamos. A vantagem é que estamos a emagrecer e a lembramo-nos da Semana Santa pelo jejum compulsório a que estamos obrigados.
O espantoso destas conferências internacionais é a criação, oferta, procura e consumo de idéias de gente proveniente de todo o mundo. Não está muita gente mas está gente muito boa. E depois estão os brasileiros que nos saúdam, com desígnio, “bem vindos a casa”. Os temas são diversos como convém quando juntamos gente preocupada com o desenvolvimento regional sustentável: energia, desenvolvimento rural, transportes, demografia, política social, mercado do trabalho, economia urbana, modelação, comércio, conhecimento, ambiente,...enfim, tudo o que tem a ver com o homem e com o território. Vale a pena contar-vos um pouco o que foi discutido numa mesa redonda envolvendo os Presidentes da Regional Science Association International, Roger Stough e Roberta Capelo, Jean-Claude Thill editor da revista Papers of Regional Science, Youshiro Higano, Presidente da Associação do Pacífico, e Carlos Azzoni nosso anfitrião em São Paulo.
Roberta Capelo disse que a Ciência Regional não podia dedicar-se somente aos aspectos espaciais mas que tinha de se orientar mais para os aspectos territoriais: também a preocupa a interacção entre a Ciência Regional e a Política Regional. Roger Stough falou nos fenômenos que estão a mudar o mundo com a redução do peso dos Estados em favor das regiões e dos Super Estados, ou a revolução das novas tecnologias da informação, ou – a outra escala – o papel dos líderes e de outros recursos humanos e institucionais no desenvolvimento local, o que torna a análise do desenvolvimento bastante mais complexa pois passamos de modelos baseados em recursos tangíveis para formalizações que têm de considerar recursos intangíveis. Jean Claude Till referiu que a Ciência Regional deve relacionar-se com outros saberes que tratam assuntos semelhantes como o que ocorre na área da econometria espacial. Carlos Azzoni contou que só depois de resolvida a inflação no Brasil é possível os economistas dedicarem-se às questões espaciais, para notarmos que existe desigualdade, que existe concentração do desenvolvimento e que o ambiente é fundamental para o desenvolvimento regional. Finalmente Youshiro Higano justificou que não basta ter como preocupação o Aquecimento Global pois a resultução desse fenômeno passa pela resolução dos problemas de gestão da água, da energia e de outros fluxos materiais.
Ouvimos muitos outros trabalhos interessantes nomeadamente sobre modelos de equilíbrio geral apresentados por brasileiros; e apresentamos três pequenos textos que fomos fazendo ao longo dos últimos meses. Um com o Nuno Martins sobre as Escalas das Teorias do Desenvolvimento; outro com o Cristiano Cechella sobre comércio internacional e investimento estrangeiro; e um terceiro, sobre modelos de interacção espacial com uso do solo apresentado com o Paulo Silveira. Pelo que vimos de outros trazemos coisas novas mas também temos muito que aprender. É isso que torna os congressos enriquecedores.

(Prof. Tomaz Dentinho In A União)

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