segunda-feira, julho 28, 2008

Curso de Energias Renováveis

Tomemos o exemplo do vento!

Em 1965 Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano, e Benjamim Pereira publicaram "Moinhos de Vento dos Açores e Porto Santo". Foi através do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular e sob o patrocínio do Instituto para a Alta Cultura.Na introdução chamam "modesto" ao trabalho, mas ele tornou-se o primeiro e ainda hoje bom e clássico estudo aglutinante e estruturante do que até à época nomes sólidos da etnografia insular como Luís Ribeiro e Bernardo Leite de Ataíde tinham reunido e publicado. Da classificação produzida ficou-se a saber que havia moinhos fixos, de pedra ou de torre e moinhos giratórios, de madeira. Entre uns e outros são mais de sete os tipos definidos cujas características e zonamento nas ilhas são objecto de recolha e desenho. A classificação como património regional, feita na década de 80 do Século XX, não conseguiu mais do que a pálida recuperação de alguns, sobretudo feita à custa do que importa num moinho – o funcionamento – para lhes manter, ao menos, a silhueta…E tudo isto vem aqui a propósito de um novo curso da Universidade dos Açores anunciado para as energias renováveis, e doutro que preenche as vagas ano após ano: o de engenharia do ambiente. Mais do que isso, vem a propósito de uma conversa, daquelas de Verão, em que insistiram comigo sobre a novidade destas coisas das "renováveis" e sobre o impacto na paisagem das zonas ou quintas de pás para captação da energia eólica. Diziam que era um descalabro ver as pás a "sujar" o cimo dos cabeços e repliquei que elas não eram mais do que a forma actual, tão despretensiosa como as outras anteriores, de aproveitar a força do vento que anda por aí. Então vieram-me com a resposta que estas pás nada têm a ver com os moinhos de vento, esses sim belos e pitorescos. Desde logo a questão do pitoresco teria que se lhe dissesse porque tem a ver com a possibilidade de inspirar um artista, sobretudo um pintor, e não com a qualidade da solução técnica encontrada. Um moinho talvez fosse mais facilmente pitoresco nesse sentido, embora já aí tenha dúvidas. Mas o que verdadeiramente torna os moinhos interessantes e belos – estes de que Ernesto Veiga de Oliveira recolheu informação e estes outros que agora "nascem" por aí – é o mostrarem a capacidade das pessoas, a cada tempo, com a tecnologia que têm à mão e com a ciência que possuem, de captar essa energia disponível. Eles são apenas – o que não é pouco – testemunhos do saber e do esforço humanos. O bonito vem depois e não tenho dúvidas que ele aparece sempre, quando a solução técnica e a base científica são de qualidade. Aliás só essas poderão subsistir, porque os erros na natureza pagam-se caro, designadamente neste campo em que lhe vamos buscar algo tão complexo como a energia do vento. Regressando aos cursos, o interessante destes dois é que vão buscar coisas que, como alguém disse, poderiam existir em qualquer parte menos nos Açores e, quiçá, em Angra do Heroísmo. Estranha afirmação!Precisamos de nos libertar, como ninguém, da escravidão dos combustíveis fósseis. Perceber como isso se faz, pesquisar e modelizar soluções, construir aqui um saber é algo que nos interessa sobremaneira. Fazê-lo em ligação com outros por esse mundo fora, importar e exportar saber e tecnologia é fazer universidade, é fazer comunidade, é integração. Bonito, bonito, é que esta atitude parte de um pressuposto simples: fazer das fraquezas forças em vez de ficar na lamúria! Tomar o que faz falta como inspiração de trabalho! Só se espera e deseja que a ciência seja boa e que as comunidades locais sejam as primeiras a perceber a importância disto tudo.
(In Maduro Dias, Azores Digital)

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