quarta-feira, novembro 19, 2008

A crise do ambiente, o que não fará à gente?

Foi proferida, no dia 14 de Novembro, pelas 14:30 h, na Escola Secundária Domingos Rebelo, em Ponta Delgada, um palestra, pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores sobre a problemática das Alterações Climáticas Globais.
A palestra foi organizada por um grupo de alunos da turma H do 12º Ano de Escolaridade da mencionada escola, cujo tema de investigação, na disciplina de projecto, versa os efeitos das alterações climáticas globais a nível local.

Os vários impactos das alterações climáticas são exaustivamente enumerados nos relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change): Aumento do nível médio da água do mar, agravamento da fome e de doenças transmitidas por insectos, diminuição da água potável, aumento do número de incêndios, aumento das frequências de secas e inundações, aumento da intensidade dos ciclones, entre muitos outros aspectos nefastos à organização das sociedades actuais.
Questionava-se se a crise económica e financeira que hoje vivemos não diminuirá o esforço dos países do mundo no combate às alterações globais e na implementação de medidas de mitigação capazes de reduzir os danos dos impactos previstos.
A crise económica e financeira global a que assistimos neste momento, era previsível, e foi efectivamente prevista. Já poderia ter acontecido antes do colapso das hipotecas subprime nos Estados Unidos da América, mas é importante sublinhar que já era aguardada por muitos economistas há algum tempo. Pode afirmar-se que se tratava de um acidente à espera de acontecer, como o referiu Alan Greenspan, antigo presidente do Federal Reserve Norte Americano. Não é ainda previsível quando terminará esta crise económica e financeira.
O mesmo se pode afirmar relativamente às Alterações Climáticas Globais. Os seus impactos são previsíveis e há muitos sinais dos seus efeitos espalhados pelo mundo.

A crise da economia,
afecta-nos no dia a dia,
E crise do ambiente,
O que não fará à gente?
Esta crise financeira não está ligada a questões ambientais, está sim relacionada com problemas estruturais e profundos da economia global. Do mesmo modo que a "crise do ambiente", ou seja, as alterações climáticas globais, estão relacionadas com alterações profundas dos ciclos da natureza.
Urge repensar a economia, como pilar do desenvolvimento sustentável, pois dela dependem acordos internacionais e a capacidade de implementação de medidas de mitigação.
Os pragmáticos da economia defendem que as autoridades reguladoras devem proibir a comercialização dos chamados produtos financeiros tóxicos de modo a travar a actual crise. No acordo que deu origem ao Protocolo de Quioto defendia-se a redução de "gases tóxicos no planeta" (CO2) de modo a que se pudesse controlar a temperatura terrestre. Existem paralelismos nítidos entre a crise económica e financeira actual e a crise ambiental global que se tende a instalar: com o degelo dos polos e o aumento da temperatura média da terra. Mas, tal paralelismo, tem mais a ver com a forma como as crises se manifestam do que com a sua interdependência.
É possível tentar resolver parte da crise financieira e parte da crise ambiental através de políticas de consumo sustentável e responsável. Entenda-se por sustentabilidade, a forma de dar continuidade aos aspectos económicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana, sem perder o sentido que lhe confere o Relatório de Brundtland: "suprir as necessidades das gerações presentes sem afectar a possibilidade das gerações futuras suprirem as suas".
Poderão já ser sinais locais da "crise ambiental global":
-A proliferação de moscas domésticas no Outono dos Açores, observada especialmente na ilha Terceira e na ilha de São Miguel.
-Os avistamentos de tubarões-baleia entre Santa Maria e São Miguel, possivelmente relacionados com um aumento médio de cerca de três graus, da temperatura da água do mar.
-A seca que este ano assolou particularmente as ilhas Terceira, São Jorge e Pico.
-Ou o início da época das vindimas, já notado na ilha do Pico que começam mais cedo.
Apesar da crise económica e financeira, a Europa continua a apostar nas energias alternativas, pois quer instalar cerca de 120.000 MW de energia gerada através de unidades eólicas Off-Shore, nas próximas duas décadas.
Apesar da crise, os Estados Unidos da América, continuam a apostar em medidas de mitigação das alterações climáticas globais nas cidades americanas, finaciando o projecto "Cidades para a protecção do clima", sugerido pelo Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI). Os ambientalistas e políticos esperam que com a eleição de Obama para a Casa Branca se faça uma alteração profunda da política ambiental americana, aderindo aos instrumentos internacionais de redução de emissões de gases com efeitos de estufa e concluindo, até o final de 2009, um novo acordo global sobre alterações climáticas.
Apesar da crise, governos como o das Maldivas, deixam o mundo boquiaberto, ao apostar na compra de terras na Índia ou Sri Lanka para a eventualidade do mar engolir o seu país.
Nos Açores, também se tem apostado na redução de emissões, através das energias alternativas como a geotérmica ou a eólica, todavia, não se tem investido em medidas de mitigação às alterações climáticas globais, como tal, não sentiremos a diferença nesta época de crise. Contudo, a nomeação do Professor Álamo de Meneses, com grande formação técnica e científica na área do ambiente, para Secretário Regional do Ambiente e do Mar também poderá levar a uma alteração da visão do Governo Regional sobre essas questões.
(In Ribeiras Pico)

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