quarta-feira, novembro 19, 2008

Falta de chuva, avarias e arroteias deixaram Angra sem água

A falta de chuva, as arroteias na Caldeira Guilherme Moniz, uma grave avaria nas principais condutas que ligam a nascente do Cabrito à rede de abastecimento de água do concelho e, eventualmente, as explosões na pedreira existente nessa zona são apontadas pelo hidro-geólogo Lopo Mendonça como as causas para a falta de água em Angra do Heroísmo desde o Verão deste ano. O especialista apresentou, ontem à tarde, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, as conclusões do estudo que, em Setembro, realizou sobre os caudais das nascentes e furos de captação que abastecem o concelho.Na sessão pública de apresentação, Lopo Mendonça garantiu que, em termos hidrológicos, o ano de 2008 foi o “mais seco” dos últimos cinco anos.“Inclusivamente, o ano de 2008 é pior que o ano de 2000, que se conseguiu identificar como ano com dificuldades no abastecimento dos Serviços Municipalizados de Angra”, explicou o hidro-geólogo.Em declarações aos jornalistas, após a apresentação das suas conclusões, Lopo Mendonça especificou que houve uma redução, “na ordem dos 250 litros por metro quadrado”, na pluviosidade registada na ilha.“Esta é a principal causa para a falta de água. Ou, pelo menos, aquela que maior contributo deu para o problema”, sublinhou o especialista. Lopo Mendonça assumiu ainda que o arroteamento na Caldeira Guilherme Moniz foi outro factor a contribuir para a descida dos caudais que abastecem o concelho de Angra de água,“O arroteamento de áreas da Caldeira Guilherme Moniz – Pico Alto é uma prática totalmente indesejável e prejudica o regime das águas superficiais e subterrâneas. Agora é impossível recuperar essas zonas. Tal recuperação implica voltar a colocar naquele local todas as espécies vegetais que contribuíam para a retenção da água. E isso, parece-me muito improvável”, afirmou. Além disto, segundo Lopo Mendonça, até à Primavera deste ano, ocorreram perdas na rede de abastecimento do concelho.“Cruzando estes dados [água extraída dos furos, que trabalharam entre o Outono de 2007 e a Primavera de 2008] com os da água turbinada [que segundo o especialista são um bom indicador da água disponível para consumo naquela área] na estação hidroeléctrica da Nasce Água, verifica-se que, de Novembro de 2007 e Junho de 2008, houve excedentes de água que foram turbinados e que poderiam ter sido utilizados no abastecimento. Como conclusão, a dificuldade do abastecimento no Inverno e Primavera de 2008 não terá a ver com questões climatéricas e alteração do regime hidrológico das nascentes; pode ser atribuído a avaria grave no sistema de adução que recebia a água das nascentes e não a aduzia para o sistema distribuidor”, explicou Lopo Mendonça. O hidro-geólogo assumiu ainda que as explosões ocorridas na pedreira na área dos Cinco Picos “pode ter afectado os aquíferos do Cabrito”.“Como não existem registos da intensidade das explosões ali ocorridas (que provocam ondas de choque semelhantes às de um sismo), não é possível determinar até que ponto elas contribuíram para alargar as fissuras existentes nos aquíferos. Mas não se excluí a hipótese de que isso possa ter ocorrido e, assim, provocado perda de água dos aquíferos ali existentes”, argumenta.
Soluções
Para Lopo Mendonça, face às conclusões a que chegou, a resolução do problema (que pode repetir-se no futuro) passa pela abertura de novos furos de captação de água, pela implementação de um sistema informatizado de tele-gestão dos caudais e pela protecção (por lei) das áreas onde existem nascentes e furos de captação. “No continente existe essa legislação, que delimita áreas em redor dessas zonas de água, que impedem intervenções humanas que podem pôr em risco esse recurso”, explica o especialista.“A longo prazo, deve ser estudada a viabilidade de recarga artifical dos aquíferos, aproveitando os excedentes da água das nascentes do Cabrito”, sugeriu ainda.
Investimentos
Após as explicações de Lopo Mendonça, a presidente da Câmara Municipal de Angra apresentou à centena de angrenses que assistiram à apresentação do relatório um conjunto de investimentos que, segundo ela, vão contribuir para minimizar este problema.Andreia Cardoso confirmou que, já em Dezembro, vai iniciar-se a abertura de quatro furos para captação de água subterrânea (um em São Sebastião, dois no Porto Judeu e um na Terra-Chã). “Espero ter esses furos a funcionar em Março de 2009”, explicitou a autarca aos jornalistas. Além disso, Andreia Cardoso garantiu que, quando houver caudais suficientes nas nascentes, os Serviços Municipalizados vão substituir as bombas de dois furos, para garantir mais capacidade de extracção.“Vamos implementar um sistema de telegestão e proceder ao tratamento terciário das águas da ETAR, que podem ser aproveitadas pela indústria e pela lavoura”, adiantou. Andreia Cardoso disse ainda que, em paralelo, a autarquia – com o apoio da Universidade dos Açores – vai estudar a possibilidade da recarga artificial dos aquíferos e “encetar diligências juntos de várias entidades, públicas e privadas, para garantir medidas que permitam proteger as captações de água”. Quanto a responsabilidades, a autarca adiantou aos presentes que “a Câmara de Angra pretender apurá-las, mas que o fará em paralelo com os investimentos necessários”. “Esses investimentos são superiores a cinco milhões de euros”, enfatizou a presidente da autarquia.“Nos últimos dois dias, conseguimos não proceder a cortes de água. A captação de água no Cabrito está a melhorar. Mas ainda é-me impossível dizer quando será possível suspendermos o plano de cortes. O sistema ainda está muito frágil”, concluiu Andreia Cardoso.

(In Diário Insular)

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