quarta-feira, abril 29, 2009

A evolução da escrita

Foi proferida, no passado dia 24 de Abril pelas 21 horas, na Casa do Povo de São Sebastião, pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, uma palestra intitulada “A evolução da escrita”. Essa palestra foi integrada na I feira do Livro de São Sebastião que decorreu na Casa do Povo da vila, entre os dias 23 e 26 do corrente mês, com o título “O Livro Mágico”. O programa dessa feira foi extenso tendo sido realizados saraus literários, com o intuito de evidenciar a importância do livro como um dos principais veículos de comunicação.
Referindo-se á evolução dos símbolos utilizados na escrita, Félix Rodrigues afirmou que provavelmente, a escrita ideográfica evoluiu a partir de formas de escrita pictográfica, uma vez que consiste em representar, através de signos pictóricos, não só objectos e ideias, mas também, sons com que os objectos ou ideias são referidos num dado idioma.
Ao esquecer a função da escrita, como um processo que envolve a troca de informações e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este fim, podemos incorrer em interpretações incorrectas ou aleatórias do significado ou utilidade dos símbolos na escrita.
Afirmou ainda que o trabalho recentemente tornado público que defende que a Terceira pode ter sido a ilha do “Ovo Cósmico”, a terra natal dos primeiros faraós, se baseia numa constatação da forma dos símbolos e não na transmissão de uma mensagem, por isso é frágil e sem suporte científico. Formas naturais, com semelhança a algumas representações humanas podem ser encontradas em toda a parte. Para confirmar que é possível construir uma teoria pouco consistente em torno de formas naturais ou aleatórias, bastaria recorrer ao Google Earth e encontrar figuras semelhantes às que de seguida se apresentam, observadas na ilha Graciosa.

Figura de babuíno

No antigo Egipto, o babuíno estava associado ao deus Thoth, considerado o deus da escrita, do cálculo e das actividades intelectuais.

Figura de rato

O rato-de-faraó ou mangusto (Herpestes ichneumon) é um roedor originário da Europa, Ásia e África, muito estimado pelos antigos egípcios por ser considerado um grande devorador de ovos de crocodilos. Destes factos, associados aleatoriamente, não resulta prova de ligação dos Açores à civilização egípcia. Ora, se os símbolos gigantes encontrados na Terceira dão origem ao “Ovo Cósmico”, a Graciosa também terá que se considerada como fazendo parte desse tal ovo.
Para Félix Rodrigues, a escrita é muito mais do que uma junção de símbolos, integra também a língua, o pensamento e a cultura de um escritor ou de um povo. Deu como exemplo Camões e os Lusíadas, de como a escrita de Camões evoluiu, desde que escrevera:

En una selva al dispuntar del dia
Estaba Endimion triste y lloroso,
Vuelto al rayo del sol, que presuroso
Por la falda de un monte descendia.

Até à grande epopeia portuguesa:

Olha por outras partes a pintura
Que as Estrelas fulgentes vão fazendo:
Olha a Carreta, atenta a Cinosura,
Andrómeda e seu pai, e o Drago horrendo;
Vê de Cassiopeia a fermosura
E do Orionte o gesto turbulento;
Olha o Cisne morrendo que suspira,
A Lebre e os Cães, a Nau e a doce Lira.

Nessa estrofe dos Lusíadas, Camões resume o conhecimento medieval dos céus, tanto do hemisfério celestial norte como do hemisfério celestial sul.
Terminou referindo que se extrairmos o dom de uma palavra, vemos mais do que som, tanto como ideia ou o equivalente a raça:
Dos que a evocam,
Dos que a pronunciam,
Como uma explosão de genes, marcados por sílabas, em vez de aminoácidos.

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